Judeus e judaísmo na obra de Lasar Segall

Celso Lafer
Maria Luiza Tucci Carneiro

Celso Lafer é presidente do Conselho Deliberativo do Museu Lasar Segall, professor-titular do Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da USP, na qual estudou (1960-1964) e leciona desde 1971, depois de ter obtido seu PHD em Ciência Política na Universidade de Cornell, EUA, em 1970. Foi ministro de Estado das Relações Exteriores (2001-2002; 1992) e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (1999), tendo sido, de 1995 a 1998, embaixador e chefe da Missão Permanente do Brasil junto às Nações Unidas e à Organização Mundial do Comércio em Genebra. É autor, entre outros livros, de A Reconstrução dos Direitos Humanos: Um Diálogo com o Pensamento de Hannah Arendt (1988); Desafios: Ética e Política (1955); A Identidade Internacional do Brasil e a Política Externa Brasileira (2a ed., 2004).

Maria Luiza Tucci Carneiro é historiadora, graduada e pós-graduada em História pela Universidade de São Paulo. Tanto no Mestrado como no Doutorado tem o racismo e ao antissemitismo como objeto de estudo, ambos publicados no formato livro. Em 2001 apresentou sua Tese de Livre Docência intitulada Cidadão do Mundo: O Brasil diante da questão dos refugiados judeus, 1933-1948. Atualmente é professora Livre Docente dos seguintes programas de Pós-Graduação da Universidade de São Paulo: História Social do Departamento de História/FFLCH; Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas do Departamento de Letras Orientais/FFLCH; e Direitos Humanos da Faculdade Direito São Francisco. Coordenadora do LEER- Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação/USP, do Departamento de História/USP.

Lasar Segall é um dos mais expressivos artistas-símbolo dos judeus na Diáspora. Nascido em Vilna (1891), fixou-se definitivamente em São Paulo em novembro de 1923 vindo a ocupar destacada posição no cenário da arte moderna brasileira. Foram suas andanças pelos tempos sombrios de Berlim, Dresden e Paris, assim como seu retorno a Vilna, que lhe aguçaram a sensibilidade para os temas judaicos, as utopias expressionistas e as concepções de uma arte engajada. Enquanto artista expressionista registrou seu protesto contra a degradação da retórica política, a injustiça e o genocídio. O conjunto de seus obras produzidas entre 1936-1947 deram conta da brutalidade sistemática praticada pelos regimes totalitários. Suas telas reconstituem imagens da morte em massa, outras retratam as estratégias de sobrevivência adotadas pelas minorias oprimidas expressas (sutilmente) no caminhar exausto do judeu errante, no gesto impetuoso de angústia e de medo, na resignação e apatia dos refugiados judeus. Enfim, a metáfora do sofrimento se transformou na força motriz da criação segalliana que, ao alertar a sociedade para a degradação humana, cumpriu seu papel revolucionário. Foi sob o prisma de seu olhar de cidadão russo e movido por sua alma judaica que Segall abordou a questão dos refugiados, do anti-semitismo e da barbárie nazista contra os judeus. Sua opção por uma série de temas representativos da memória coletiva judaica expressa a aplicação do seu conceito de revolução espiritual através da arte.

São Paulo
Ateliê Editorial
2004
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