Os “Quebra-Santos”: Anticlericalismo e Repressão Pelo DEOPS/SP

Eduardo Góes de Castro

Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade de São Paulo, com dissertação defendida em 2007 e orientada por Maria Luiza Tucci Carneiro, sob o título A torre sob vigia: as Testemunhas de Jeová em São Paulo (1930-1954).

O inventário "Quebra-santos", de autoria de Eduardo Goés de Castro, expressa a riqueza do Fundo DEOPS sob a guarda do Arquivo Público do Estado de São Paulo. Como pesquisa de Iniciação Científica, este estudo dá continuidade ao mapeamento dos prontuários policiais desenvolvidos pela equipe de pesquisadores PROIN. Através deste inventário constatamos que, em muitos casos, os "inimigos políticos" coincidem com os "inimigos da Fé católica". Tratados pela Polícia Política como espécies de "plantas exóticas" ou "ervas daninhas", esses desordeiros deveriam ser combatidos. Popularmente denominados de "Quebra-santos", os hereges da Ordem Social e Política era "eternos inimigos de nossa pátria e da nossa raça". Daí encontrarmos fichados pelo DEOPS – além dos anarquistas, comunistas e socialistas – os partidários do Protestantismo, os adeptos do Espiritismo, os afiliados à Maçonaria, e os Testemunhas de Jeová.
Esses registros demonstram que, nas décadas de 1930-1940, a população do Estado de São Paulo era heterogênea e que nem sempre correspondia ao projeto étnico-político idealizado pelo governo Vargas. Publicações libertárias investiam contra a Igreja Católica identificada como "o monstro clerical que se infiltrava no território brasileiro"; enquanto os padres era ridicularizados como "papa-hóstias" e seus fieis como "lambe-altares". Livretos publicados pelos Testemunhas de Jeová foram confiscados como provas de crime político por denunciarem os campos de concentração nazistas; ao mesmo tempo que dezenas de centros espíritas foram fechados como "partidários do comunismo". Enfim, nem tudo era calmaria na Paulicéia tão desvairada.

Coleção: Inventário DEOPS

Sobre a coleção: A Série Inventário DEOPS foi criada em 1996 como um instrumento de apoio aos pesquisadores interessados em consultar o acervo da Polícia Política do Estado de São Paulo, sob a guarda do Arquivo do Estado: os prontuários do FUNDO DEOPS.
Os projetos executados com base nas fontes arquivadas junto a Série Prontuários DEOPS, têm como foco a intolerância étnica e política praticada pelo Estado republicano entre 1924 -1983. Assim, a Série Inventário DEOPS pode ser considerada como produto dessa proposta acadêmica que tem sua continuidade na produção de teses de doutorado e dissertações de Mestrado em História Social. Parte destes estudos – fundamentados nos arquivos policiais e diplomáticos – foram publicados em diferentes coleções a saber: Teses & Dissertações (Arquivo do Estado e IMESP), Histórias da Intolerância (LEI; Associação Editorial Humanitas), Intolerância Política (Editora Lazuli) e Histórias da Repressão e da Intolerância (Associação Humanitas Editorial; FAPESP e Imprensa Oficial). 

A Série Inventários DEOPS encontra-se organizada em módulos temáticos cujos títulos reproduzem os "rótulos" arquivísticos empregados pela própria Polícia Política. Este conjunto de informações compõe o Banco de Dados PROIN/DEOPS, que, enquanto produto do Projeto Temático FAPESP, cumpre com o seu objetivo principal: proporcionar novos conhecimentos para a escrita da História Política do Brasil Contemporâneo. 

Nossa proposta continua aberta aos novos segmentos de pesquisa relacionados à história dos impressos políticos clandestinos, das mulheres "hereges", das comunidades de estrangeiros radicados no Brasil, dos movimentos negros e feministas, etc. Enfim, esta série nos permite repensar a dinâmica dos órgãos de repressão que, através de seus registros, nos oferecem oportunidades para a reconstituição de uma história de anônimos.

São Paulo
Humanitas/Fapesp
2008
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