As doenças e os medos sociais

Yara Nogueira Monteiro,
Maria Luiza Tucci Carneiro

Maria Luiza Tucci Carneiro é historiadora, graduada e pós-graduada em História pela Universidade de São Paulo. Tanto no Mestrado como no Doutorado tem o racismo e ao antissemitismo como objeto de estudo, ambos publicados no formato livro. Em 2001 apresentou sua Tese de Livre Docência intitulada Cidadão do Mundo: O Brasil diante da questão dos refugiados judeus, 1933-1948. Atualmente é professora Livre Docente dos seguintes programas de Pós-Graduação da Universidade de São Paulo: História Social do Departamento de História/FFLCH; Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas do Departamento de Letras Orientais/FFLCH; e Direitos Humanos da Faculdade Direito São Francisco. Coordenadora do LEER- Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação/USP, do Departamento de História/USP.

A coletânea As Doenças e os Medos Sociais reflete a produção de um dos segmentos de pesquisa do LEER-USP, por meio de estudos que mobilizam a atual historiografia internacional e brasileira voltada ao tema. Da iconografia fotográfica ao cinema, dos discursos científicos às práticas populares de cura, aprendemos que o medo será sempre uma mola mestra a potencializar ações e interpretações sobre a realidade que envolve os homens e as mulheres num certo tempo e espaço.
Ao tratar tanto da experiência do adoecer individual, balizada pelos limites impostos à carne que sofre, como de uma doença de dimensão coletiva, redundando na morte social de tantos, esta coletânea demonstra que o medo é uma das experiências mais intrigantes para esse acontecimento histórico. Isso fica mais evidente, sobretudo, quando os entrelaçamentos de ordem simbólica se mostram enredados com a realidade do viver daqueles que a cercam, tendo o medo escondido nas fímbrias dos discursos e das práticas que compreendem signos tão diversos.
"Nada mais difícil de analisar do que o medo, e a dificuldade aumenta ainda mais quando se trata do individual ao coletivo. Podem as civilizações morrer de medo como pessoas isoladas?" Tal pergunta, feita por Jean Delumeau – estudioso dos medos modernos do Ocidente – nos alerta para a complexidade dos tempos numa transposição entre o atual-passado e o singular-plural, além de nos colocar diante de uma emoção que foi adquirindo o significado de vergonha a ser escondida. Fica evidente que quando essa temática – a dos medos sociais – esparrama-se então para a vivencia da doença, potencializam-se os sentimentos atrelados à ideia de fracasso, pessoal ou coletivo, em face dos desafios que só uma vida definida como saudável poderia trazer.
Desde os cheiros fortes vindos do sofrimento, envolvidos pelas dimensões da corporalidade, ao discurso prometeico da ciência médica e a sua notória tentativa de apagamento de vestígios do "patológico" para a ascensão do "normal" – são estas as matérias que a história vem vasculhando, desvendando e analisando sob diversas lentes analíticas.

São Paulo
Fap-Unifesp
2012
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