In Difesa della Razza, de Anna Rosa Campagnano, é muito mais que um livro sobre imigração italiana no Brasil. Ingênuos são aqueles que escrevem sobre imigração debruçados sobre fontes históricas ultrapassadas ou fechados nas suas histórias de família. É difícil avaliar, por exemplo, a política imigratória endossada por Getúlio Vargas sem nos referirmos às práticas racistas sustentadas por seus ministros das Relações Exteriores, dos Negócios Interiores ou pela Polícia Política. Muitas vezes, para manter as versões consagradas sobre alguns líderes políticos que governaram com Getúlio Vargas, e não apenas ao seu lado, a historiografia contemporânea peca por alimentar mitos que comprometem a verdade histórica.
Se a Itália de Mussolini destruiu a ilusão de que todo judeu italiano tinha de ser um "italiano judeu", o Brasil de Vargas também anulou as esperanças de que os italianos judeus tinham de ser reconhecidos como cidadãos. Se os judeus italianos apátridas conseguiram um visto de entrada para o Brasil, foi porque entraram na categoria de turistas ou então como católicos mantendo-se reclusos até o final da Segunda Guerra Mundial. Se dependesse da opinião do diplomata Jorge Latour, em missão diplomática em Roma em 1938, eles jamais entrariam no Brasil. Burlando as circulares secretas ou negociando o visto (de turista, capitalista, temporário ou permanente) com alguma autoridade diplomática, centenas deles conseguiram emigrar, inaugurando uma fase diferenciada da imigração italiana para o Brasil: a dos judeus italianos refugiados do fascismo.

Coleção: História das Migrações

Sobre a coleção: A Coleção História das Migrações é coordenada pelos Profs. Drs. Maria Luiza Tucci Carneiro e Federico Croci, docentes da FFLCH-USP, e tem como objetivo criar referências para os estudos migratórios, abrindo espaço para a divulgação de estudos que têm o fenômeno das migrações como objeto de análise sob uma perspectiva multidisciplinar.