São Paulo: Metrópole das Utopias

Maria Luiza Tucci Carneiro

Maria Luiza Tucci Carneiro é historiadora, graduada e pós-graduada em História pela Universidade de São Paulo. Tanto no Mestrado como no Doutorado tem o racismo e o antissemitismo como objeto de estudo, ambos publicados no formato livro. Em 2001 apresentou sua Tese de Livre Docência intitulada Cidadão do Mundo: O Brasil diante da questão dos refugiados judeus, 1933-1948. Atualmente é professora Livre Docente dos seguintes programas de Pós-Graduação da Universidade de São Paulo: História Social do Departamento de História/FFLCH; Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas do Departamento de Letras Orientais/FFLCH; e Direitos Humanos da Faculdade Direito São Francisco. Coordenadora do LEER- Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação/USP, do Departamento de História/USP.

Este livro, elaborado com a colaboração de pesquisadores do Proin – Projeto Integrado Arquivo do Estado/Universidade de São Paulo. Os jovens pesquisadores que assinam estes artigos são hoje militantes da memória. Por meio de documentos investigados junto ao acervo do DEOPS/SP, reconstituíram a trajetória política de centenas de anônimos: operários, judeus, negros, mulheres, comunistas, fascistas, japoneses, alemães, lituanos, entre outros tantos segmentos sociais perseguidos por "pensarem diferente" e por sonharem com um mundo melhor. Esses estudos combatem, em particular, a historiografia comprometida com as versões oficiais da História que, protegida pela legislação brasileira, dá legitimidade à ação dos carrascos, perseguidores de utopias.
Hoje, após a abertura do acervo DEOPS do Estado de São Paulo, então sob a guardo do Arquivo do Estado, a publicação deste livro pode ser considerada como uma experiência positiva de uma sociedade democrática que procura conhecer o seu passado. Os arquivos da repressão, de uma forma geral, demonstram que o Estado republicano, em diferentes momentos de sua trajetória política, investiu contra o "outro", humilhando-o e negando-lhe qualquer possibilidade de realização. Abusando do poder, as autoridades oficiais ignoraram as fronteiras que distinguiam as etnias, as ideologias políticas, as classes sociais e as religiões. Ofuscadas pelo poder do mando, proibiram o "outro" de sonhar, esquecendo-se de que todo ser humano tem o direito de pensar um mundo mais justo, um futuro melhor para seus filhos e gerações futuras. Nesse sentido, podemos considerar a cidade de São Paulo com a metrópole moderna da sedição, centro produtor e multiplicador de vozes dissidentes que, em idiomas "exóticos", romperam os silêncios impostos pelo poder. Em "espaços clandestinos da sedição", dezenas de autores, editores e distribuidores – verdadeiros fabricantes de utopias impressas – procuraram, por meio de estratégias criativas, burlar a vigilância e inibir a censura institucionalizadas. Enfim, todos os utopistas tiveram (e ainda têm) o seu tempo.

São Paulo
Lazuli / Companhia Editora Nacional
2009
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