Disciplina sobre história da cultura africana
encontra resistência entre docentes
Segundo a Profa. Petronilha
Beatriz Gonçalves e Silva, do Conselho Nacional de
Educação, um número significativo de docentes da
rede pública de educação têm manifestado
resistência na aplicação da lei que estabelece a
obrigatoriedade do ensino da história da cultura afro-brasileira
e africana. Boa parte dos professores entendem, equivocadamente, que a
questão deve ser tratada apenas por professores negros e entre
alunos negros. Este é o tema que a pesquisadora da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar) vai apresentar no painel
"Educação e questões étnicas", no Encontro
Internacional África-Brasil Igualdade racial: um desafio para a
mídia, que vai ocorrer no SESC da Vila Mariana entre 12 e 14 de
outubro próximo.
A Profa. Petronilha
Gonçalves considera que o Brasil é um país
pluricultural e multi-étnico, sendo necessário – e
coerente - que essa rica realidade, constituída por costumes,
idéias e comportamentos, se reflita em um sistema educacional
inclusivo e capaz de promover o diálogo entre todos os grupos
sociais. Foi com este objetivo que, desde o ano passado, está em
vigor a lei federal n. 10.639, que obriga os estabelecimentos de ensino
público e privado, do nível fundamental ao superior, a
incorporar em sua grade curricular uma disciplina sobre a
história e a cultura afro-brasileira e africana. “Essa
conquista é fruto da luta do movimento negro brasileiro ao longo
do século XX“, afirma Petronilha Gonçalves.
O Encontro Internacional
África-Brasil Igualdade racial: um desafio para a mídia
é o evento que acolherá a exposição de
Petronilha Gonçalves e de jornalistas e especialistas de todo o
país. Trata-se de uma iniciativa conjunta da Universidade de
São Paulo, por meio de seu Núcleo de
Comunicação e Educação (NCE-USP), do
Instituto Internacional de Jornalismo e Comunicação
(IIJC) de Genebra e do SESC-SP, com o patrocínio da Companhia
Vale do Rio Doce, Paulus Editores, South Africa Airways, e da CONE.
As atividades do Encontro
Internacional África-Brasil se dividem em duas partes, sendo a
primeira restrita a 27 jornalistas africanos e convidados especiais e
prevista para os dias 10 e 11 de outubro, com atividades na USP e no
Museu Afro-Brasil. Já a segunda parte, aberta ao público
mediante prévia inscrição, será realizada
entre os dias 12 a 14/10 no auditório do SESC Vila Mariana (rua
Pelotas, no. 141). As inscrições podem ser feitas pelo
site www.sescsp.org.br/africabrasil.
Obstáculos - A Profa.
Petrolina foi relatora do Parecer CNE 003, aprovado por unanimidade em
10 de março de 2004, que trata das diretrizes curriculares
nacionais para o ensino da nova disciplina focada na
educação das relações
étnico-raciais. Ela tem acompanhado as atividades de
implantação do que está previsto no referido
parecer, bem como na Resolução 001/2005, que regulamentou
a Lei 10.639. Segundo a docente, a atuação da Secretaria
de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade do Ministério da Educação (SECAD) tem
sido notável no que diz respeito à
implantação da política curricular em pauta.
“A SECAD tem realizado fóruns nas várias
regiões do país e conferido a devida profundidade no
tratamento das questões postas no parecer, além do
esforço em reunir estudiosos das questões raciais e a
produção e a divulgação de textos,
disponíveis inclusive na internet”, informa.
Mas a professora também
aponta para obstáculos. “Muitos professores têm
reclamado da falta de materiais e de condições de
trabalho para que possam executar o previsto na lei e nos textos
correlatos. Outros não se vêem interpelados a executar a
exigência legal por entenderem que é uma questão a
ser tratada unicamente por professores negros e entre alunos negros.
Também é precário o acesso dos docentes aos
documentos legais. A grande maioria nem sequer manuseou o exemplar
publicado pela SECAD”, comenta
Para o Prof. Ismar de Oliveira
Soares, coordenador do NCE/USP e presidente do IIJC, o Encontro
África-Brasil vai trazer à luz essa e outras
questões problemáticas. “A mídia tem um
papel fundamental na superação dessas barreiras de
caráter subjetivas e ainda tão fortes em nossa sociedade.
Mas só cumprirá com sucesso essa importante
função social se os profissionais da
comunicação, como um todo, estiverem conectados com os
anseios do movimento negro”, destaca o professor da USP.
Cobertura jornalística
por grupo de adolescentes – Um dos destaques da
programação do Encontro Internacional África
Brasil será a cobertura do evento, a ser realizada por um grupo
de “jovens educomunicadores” (saiba mais no site
www.usp.br/nce). Uma equipe de 60 adolescentes de escolas
públicas do município de São Paulo, bem como do
Colégio São Luis, todos integrantes do Projeto
Educom.rádio do NCE/USP, está sendo preparada para
realizar uma cobertura completa do evento, na linguagem
radiofônica e também a produção de notas e
comentários a serem distribuídos via Internet.
Segundo o Prof. Ismar de
Oliveira Soares, sistematizador do conceito da
educomunicação, esta será a primeira vez em que a
cobertura jornalística de um grande evento – são
esperados cerca de 600 participantes – será feita por
jovens e adolescentes, em sua maioria afro-descendentes. Guilherme
Canela, da ANDI, será um dos entrevistados pelos
repórteres-mirins do Educom.
Saiba mais:
Informações sobre o
evento: www.usp.br/nce
ou www.sescsp.com.br
Inscrições: www.sescsp.com.br
Para falar com a Comissão Organizadora envie
mensagem para o e-mail: africabrasil@usp.br