Falar de música brasileira, a princípio, é sopa no mel e ao mesmo tempo dificílimo. É tão grande a quantidade de (e sobre) informação sonora a que temos acesso hoje, com os recursos das mídias eletrônicas – em especial a Internet e, dentro dela, o YouTube, claro –, que a princípio tememos ser soterrados por uma avalanche. Vasta assim é a nossa música, e para qualquer ângulo que se olhe é possível encontrar um produto de qualidade. Posto de outra forma, é possível dizer que, do ponto de vista de abrangência musical, nos diferenciamos da maioria dos outros países.
Seria melhor dizermos: assim é a música brasileira de hoje, de ontem – e esse “ontem” pode ser todo o século XX. E assim é, por sua vez, o enorme dossiê sobre essa arte nacional tão fascinante. Mas vamos por partes. Quando convidamos o violonista de viola caipira, professor e maestro Ivan Vilela para organizar uma seção sobre música brasileira, no final do ano passado, sabíamos de olhos fechados que ele faria um belo e singular trabalho. Só não suspeitávamos que o resultado – como o leitor pode comprovar nas páginas seguintes – seria tão extraordinário.
O professor foi logo avisando: “Estou pensando em fazer um levantamento do lado B da música brasileira, do século passado para cá”, com temas e autores que quase passaram em branco na mídia, de uma forma geral. Para dar o próprio exemplo, Ivan decidiu escrever sobre o movimento Clube da Esquina – tema de sua tese de doutorado aqui na USP. E assim foi. Cito aleatoriamente alguns dos temas deste estupendo dossiê, imprescindível na estante de todo curtidor da mais genuína música brasileira:sambalanço,música brega (um achado), o próprio Clube, vanguarda paulista, rock rural. Entre outros, vários outros.
Há tempos não tínhamos na revista um fechamento tão en­volvente, uma vez que cada autor trazia/traz em seu texto uma abordagem genuína, para lá de interessante e curiosa. Assim, temos uma composição de artigos do mais alto talento, orquestrada por um “arranjador” de inegável mérito. Caro Ivan Vilela, o agradecimento sincero de toda a redação. E os nossos cumprimentos a todos os colaboradores deste sofisticado dossiê.

FRANCISCO COSTA

 

 

 

 

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