Este artigo busca analisar as formas de tensões e distensões na relação significativa de aproximação e distanciamento entre o sertão e os gerais rosianos, a partir de Corpo de baile (1956). Nesse livro, composto por sete narrativas, o processo de elaboração do espaço ficcional surge de maneira difusa gerando especificidades que recolocam em discussão as representações do espaço que se estruturara por meio da impossibilidade de fixar limites entre eles. Discute-se o sertão como um sistema móvel, cenário central da obra rosiana, e seus desdobramentos em gerais e veredas, categorias fundamentais na construção da narrativa e nas delimitações das singularidades das personagens viajantes. Nos textos rosianos, a construção do espaço é colocada em constante processo de ressignificação e aparece como lugares que estão paradoxalmente dentro e fora do mapa. Com base nesta problematização, propõe-se investigar como se configuram as manifestações de semelhanças e diferenças nesses espaços polissêmicos.
Em Grande sertão: veredas, o narrador-protagonista, por meio de um processo de análise sobre questões existenciais perturbadoras, coloca-se em um movimento de ressignificar o passado nas lembranças fragmentadas no presente. Riobaldo, na velhice, tenta compreender o vivido, em meio a uma dúvida, uma insuficiência de sentido que se desdobra em uma busca incessante de resposta. As inquietações do ex-jagunço sustentam-se em um não saber e um lançar-se ao abismo, na experiência-limite, numa tensão constante entre pluralidade e singularidade. Neste trabalho, propõe-se analisar a experiência comunitária de Riobaldo dentro do arcabouço em que a comunidade se constitui como instância dessubstancializada, um território de estranheza, num movimento de permanente ressignificação. Como fundamentação teórica, nos apoiaremos nos referenciais de Georges Bataille, Jean-Luc Nancy, Maurice Blanchot, Giorgio Agamben e Esposito, principais bases para pensar a comunidade moderna na ordem da experiência, da dessubjetivação e do acontecimento.Palavras-chave: Comunidade. Grande sertão: veredas. Experiência. DOI: https://doi.org/10.47295/mgren.v10i3.3466
O núcleo desta reflexão é a análise da relação entre corpo e paisagem, tema ainda insuficientemente explorado na obra de Guimarães Rosa, e as formas como a paisagem se transforma em componentes literários em Corpo de baile (1956), com base na noção de paisagem literária de Michel Collot e na fenomenologia da percepção de Merleau-Ponty. O artigo problematiza o espaço e os corpos nas narrativas rosianas tomando como base as construções paisagísticas, que atuam como forças criadoras da perspectiva experiencial das personagens. Com efeito, o espaço e a paisagem no contexto dessa leitura são percebidos pelas personagens através dos órgãos sensoriais, que têm como mediador o corpo.
Este texto propõe uma discussão acerca da construção do relato ficcional do vaqueiro Grivo, personagem viajante da novela “Cara-de-Bronze”. Busca-se analisar o processo de elaboração estética no entrelaçar da dupla viagem, a que ocorre no plano físico e simbólico, e os artifícios do exímio narrador-vaqueiro na inverossímil busca do “quem das coisas”. Em Corpo de baile (1956), cada novela evidencia uma situação em que a viagem constitui um recurso primordial para se explorar as potencialidades da travessia no imaginário sertanejo. Com a novela “Cara-de-Bronze”, o ato de viajar e o viajante fundem-se com a própria busca da poesia e do fazer poético. Nesta perspectiva, a travessia é ponte para a linguagem, é o sentido que se produz entre a palavra e o vazio nesse movimento em que o texto se coloca. A viagem de Grivo aponta para um percurso não convencional legitimado pela contingência simbólica da palavra.
Neste trabalho, propomos discutir o realismo em Corpo de baile (1956), de Guimarães Rosa, tomando por referência o texto “O buriti entre homens ou o exílio da utopia”, publicado no livro A Metamorfose do Silêncio (1974) e o artigo “O Mundo em Perspectiva: Guimarães Rosa” (1963), de Luiz Costa Lima. O crítico traz à luz um estudo sobre “as dimensões do real” na obra do escritor mineiro e destaca que, em Guimarães Rosa, “o mundo se abre como problema” e por meio de um “leque de perspectivas”. Em nossa análise acerca do realismo rosiano, tomaremos como referência o texto “Realismo e literatura,” em que Costa Lima organiza uma teoria estrutural do discurso literário. Pretendemos nos apoiar na teoria por ele apresentada após a virada teórica da década de oitenta, em que propõe a ressignificação do conceito de mímesis. Com a revitalização da mímesis, inicia-se uma nova etapa da qual se originaram os livros Mímesis e modernidade: formas das sombras (1980), O controle do imaginário ─ razão e imaginação nos tempos modernos (1984), Sociedade e discurso ficcional (1986), Mímesis: desafio ao pensamento (2000), que utilizaremos como apoio teórico neste estudo.
Neste artigo, buscamos problematizar questões sobre espaço e fragmentação em Grande sertão: veredas, tomando por base o modo tenso e ambíguo como Riobaldo organiza sua experiência, analisando as relações da personagem com o espaço. Acompanharemos a trajetória do narrador-protagonista em sua interminável busca pela verdade. A sua infinita travessia, real e simbólica, movida por fugas, mudanças inesperadas, desencontros e recomeços fazem com que o sertão, o mundo de Riobaldo, fique “à revelia”. Partindo das discussões propostas por Davi Arrigucci Jr., Carlos Garbuglio, João Adolfo
Hansen de que Grande sertão: veredas é uma obra de sentido aberto em que há uma busca da ordenação do mundo por Riobaldo, propomos analisar na obra os elementos que permitem discutir a tese da “Nostalgia da certeza perdida”. Claudia Campos Soares chama a atenção para “impossibilidade da fixação do sentido das coisas e da linguagem” na obra, sobretudo no que se refere às dúvidas e questionamentos do narrador-protagonista. “O desejo classificatório de Riobaldo está relacionado ao que poderíamos chamar de nostalgia do centro e da certeza perdida” (SOARES, 2014, p. 183).
Neste artigo, buscaremos problematizar questões sobre espaço e fragmentação em Grande sertão, veredas tomando por base o modo tenso e ambíguo como Riobaldo organiza sua experiência, analisando as relações da personagem com o espaço. Acompanharemos a trajetória do narrador-protagonista em sua interminável busca pela verdade. A sua infinita travessia, real e simbólica, movida por fugas, mudanças inesperadas, desencontros e recomeços fazem com que o sertão, o mundo de Riobaldo, fique “à revelia”. Partindo das discussões propostas por Davi Arrigucci Jr., Carlos Garbuglio, João Adolfo Hansen de que Grande sertão: veredas é uma obra de sentido aberto em que há uma busca da ordenação do mundo por Riobaldo, propomos analisar na obra os elementos que permitem discutir a tese da “Nostalgia da certeza perdida”. Claudia Campos Soares chama a atenção para “impossibilidade da fixação do sentido das coisas e da linguagem” na obra, sobretudo no que se refere às dúvidas e questionamentos do narrador-protagonista. “O desejo classificatório de Riobaldo está relacionado ao que poderíamos chamar de nostalgia do centro e da certeza perdida” (SOARES, 2014, p. 183).
Em Corpo de baile (1956), de Guimarães Rosa, a viagem é marcada por diferentes significados que tanto evidenciam o deslocamento pelos caminhos do sertão como para o interior do homem. O ato de viajar representa sentidos que vão além do deslocamento físico, produz paisagens reais e simbólicas. Para refletir sobre a viagem-travessia, propomos uma leitura conjunta das novelas “Campo geral”, “Uma estória de amor”, “Cara de Bronze” e “Buriti”, tendo como foco os protagonistas de cada novela, que aparecem em permanente trânsito. Nessa perspectiva, a temática dos viajantes e a leitura dos espaços em trânsito propiciam importante ponto de reflexão sobre os diferentes ciclos de vida das personagens.