Starting off from images and movie song of Motorcycle Diaries, the Brazilian Walter Salles discusses the meaning of the practice of the then young medical student Ernesto Guevara de La Serna and Latin American perspective it raises. The Amazon River is central to these observations, as is the case with the novel The Raft (1881) by Jules Verne and The Stone Raft by José Saramago, published one hundred years later, in addition to Werner Herzog's film Fitscarraldo, the price of a dream. The river crossing is also featured as a theme in Guimarães Rosa's work and sets a discussion of the role of the intellectual, as well as the Atlantic crossings between the colonizer and the colonized. The crossings in theoretical and critical terms are problematized in terms of boundaries and identities. The prospects opened up by the short story "Orientation" (Tutaméia) by Guimarães Rosa, the novel by José Saramago and a symbolic crossing in the Angolan romance Pepetela (A generation of utopia), reverse the positivist outlook of modernity and evade being ossified by postmodernity. Such narratives spawn the discussion of historical, cultural and literary discourses of our times that naturalize the processes of networking and acceptance of asymmetrical cultural flows. In contrast to the habits of the managed society, leading to administration of difference in favor of established hegemonies, they develop the concept of concrete utopia, a youth principle, which is realized in the projects where supranational community horizons are key.
Os jogos criativos presentes no conto "A terceira margem do rio" de Guimarães Rosa e no romance A jangada de pedra de José Saramago são analisados, à luz de conceitos da ecologia cultural e do que preconiza o crítico brasileiro Benjamin Abdala Júnior, para o comparatismo da solidariedade no âmbito das literaturas de língua portuguesa.
Para o sociólogo jamaicano Stuart Hall (2006), o homem pós-moderno constitui-se enquanto um sujeito essencialmente fragmentado e, por assim o ser, deseja incessantemente reconstituir-se. Em face dessa constatação, o propósito do presente artigo é discutir e analisar as problemáticas e dilemas postos aos sujeitos “pós-modernos” e, ao mesmo tempo, elucidar como essas questões se encenam esteticamente no texto literário. Para tanto, a partir das contribuições de teóricos como Linda Hutcheon (1991), François Lyotard (1998), Terry Eagleton (1998) e Ana Paula Arnaut (2002), investigaremos comparativamente os contos A terceira margem do rio (1962), de João Guimarães Rosa, e O conto da ilha desconhecida (1997), de José Saramago. Nessa leitura, buscar-se-á evidenciar como essas velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social e cultural, encontram-se representadas ficcionalmente em declínio, corroborando, de alguma maneira, para com o debate acerca da emergência de um novo indivíduo moderno, até então visto como unificado.
A aproximação das duas obras em questão, A jangada de Pedra e “A terceira margem do rio”, de José Saramago e Guimarães Rosa, respectivamente, evidencia a atitude questionadora dos autores, que ousaram buscar a diferença, o insólito, numa tentativa de destituir o absoluto. Percebe-se, nessas obras, a busca da defesa de um espaço de exceção. As narrativas se passam no “entre-lugar”, no “não-lugar”, e as personagens são marcadas pela busca de identidade e de autoconhecimento. O espaço escolhido pelos autores denota não mais o uno e o absoluto ou a bipolaridade, mas um lugar terceiro, em que as contradições e os opostos estão reunidos. Em ambas as narrativas, a travessia representa a vida e as “embarcações”, a canoa e a jangada, seriam os próprios meios de conduzi-la. Busca-se, assim, observar o mundo de um ponto de vista que permite captar da melhor forma o movimento dos fenômenos em sua pluralidade e diversidade, percebendo a cultura pós-moderna marcada sempre por um movimento emergente das margens.
Este trabalho pretende, a partir do diálogo com o filósofo coreano Byung-Chul Han (2017) acerca da questão imunológica em seu livro Sociedade do Cansaço, analisar alguns pensares e práticas discursivas circunscritas ao par contágio/contato e concernentes à pandemia de Covid-19 (Corona Vírus) que assola o mundo no século 21, em uma perspectiva literária. Desenvolvendo o diálogo da Filosofia (HAN, 2017; ZIZEK, 2003; BAUDRILLARD, 2001) com a Literatura, a abordagem pretende realçar a presença e a contribuição das Ciências Humanas no entendimento dos eventos que atravessam a sociedade contemporânea em dimensão planetária através de dois eixos que se bifurcam: (1) defender a Literatura e as Humanidades como ciência, área e campo do saber aptos a discutir e analisar as questões humanas e sociais; e (2) construir, com o leitor, uma nova experiência estética de leitura (GUMBRECHT, 2010) em tempos de quarentena. Para isso, serão trazidos alguns exemplos de Guimarães Rosa, Machado de Assis, Frans Kafka e José Saramago, em conexão implícita com algumas chaves contrastantes da argumentação desenvolvida pelo filósofo coreano. Importante ressaltar que o caminho percorrido neste artigo representa um convite ao acompanhamento do leitor no ‘traço-a-traço’ da escritura, de maneira que a experiência enunciada seja ao mesmo tempo vivida e compartilhada no processo de leitura.