Partindo de elementos orientais e budistas presentes na obra João Guimarães Rosa e de indicações sobre o tema na própria fortuna crítica do autor mineiro, este estudo busca analisar de que maneira referências budistas são utilizadas no conto “Minha gente”, de Sagarana. A investigação desse tópico no texto — uma citação atribuída ao Buda sobre uma técnica de meditação e seus efeitos — é feita considerando o que Francis Utéza explicita sobre a composição de elementos metafísico-religiosos em textos do autor mineiro, na forma como eles coexistem com elementos regionalistas. Além disso, busca-se demonstrar a função que esse dado budista possui na narrativa.
Este ensaio procura abarcar o jogo do olhar na estória “Minha gente”, de Sagarana (1946), a partir do olhar feminino de Maria Irma. Acredita-se que em suas relações interpessoais – família/negócios, amizade, amor – a personagem Maria Irma exercita uma sutil articulação de peças, para ser verossímil com um léxico forte no conto (o xadrez), que visa a seu interesse pessoal bem como familiar/social. Esse traço pode aproximar Maria Irma de algumas figuras míticas da cultura ocidental. Por astúcia sorrateira, ela demonstra uma subjetividade do gênero parcialmente distinta daquela que se costuma apreender na tradição do patriarcado, marcada por uma maior submissão da mulher. No entanto, o jogo de sedução e ludibrio que se revela nessa narrativa visa à manutenção e preservação da hegemonia masculina familiar e política de cunho patriarcal. Maria Irma representaria, na proposta defendida aqui, a tensão entre o avanço e o recuo do gênero feminino na ficção de Rosa, oscilando entre afirmar seu desejo e também garantir o status quo familiar.
Estudo do narrador autodiegético do conto "Minha Gente", de Guimarães Rosa que faz parte do volume intitulado Sagarana. O narrador, que não é identificado, assume perspectiva exterior ao que o cerca, descrevendo as paisagens e os acontecimentos com algum distanciamento e admiração. Daí resulta o descompasso entre a sua percepção e a de José, vaqueiro que o acompanha da estação à casa do tio.
Fidelidade e infidelidade são comportamentos humanos corporificados por duas figuras míticas da Antiguidade: Helena e Penélope, personagens dos épicos Ilíada e Odisseia, atribuídos a Homero. Da literatura clássica migraram para a ficção contemporânea. Em Sagarana, de Guimarães Rosa, o tema da infidelidade, e seu avesso, a fidelidade, pode ser descrito a partir de suas aproximações às míticas Helena e Penélope.