As adaptações de nove contos de Primeiras estórias, publicadas pela primeira vez em 1962, para os filmes A terceira margem do rio (Nelson P. Santos, 1994) e Outras estórias (Pedro Bial, 1999) constituem o tema deste estudo. Comentam-se as opções narrativas assumidas pelos cineastas para vencer o desafio imposto pela intensa elaboração textual presente na escrita de Guimarães Rosa. Considerando, por princípio, que cada obra literária ou fílmica deve ser apreciada em sua condição de produção artístico-cultural, o exame das relações entre o livro e os filmes privilegia
algumas das implicações temáticas e estéticas resultantes dessa passagem.
O sucesso na transposição de narrativas literárias para o cinema depende da resolução adequada
de uma série de questões, em especial a do narrador, conforme apontaram Xavier (1998) Johnson
(1995) e outros. Os desafios para a transposição ampliam-se consideravelmente quando se trata de
narrativas com intensa elaboração textual, como é o caso de Primeiras estórias, de Guimarães
Rosa, que foram alvo de duas versões cinematográficas nos anos 90: A terceira margem do rio,
(Nelson Pereira dos Santos, 1994) e Outras estórias (Pedro Bial, 1999). Em ambos os casos, a
roteirização privilegiou a unificação das narrativas curtas, compondo um grande quadro de
personagens com relações de parentesco ou de envolvimento em situações que extrapolam o
conteúdo diegético dos contos. As peculiaridades da escrita de Rosa, todavia, interferem
substancialmente no processo e no resultado. O presente trabalho confronta determinadas
personagens nas versões literária e cinematográfica, ressaltando difer