This article analyses how form and content are intertwined in the story My Uncle, the Jaguar
(1961) by Brazilian writer João Guimarães Rosa. In the first part, I use the fourteenth episode of
Ulysses (1920), ‘Oxen of the Sun’, as an example of how language and form can convey ideas.
The next section deals with Rosa’s efforts to create a character-narrator who seems to be on the
verge of becoming-animal. The character’s transformation into a jaguar-like being is
ambiguous, seeming to be both psychological and behavioural. In this sense, there is no
evidence whether his metamorphosis is physical. However, the language of the narrative
conveys his transformation, transcending him from Portuguese to Tupi-Guarani, to an animal
snarling onomatopoeic language. To support my argument, I use a theoretical framework
derived from Animal Studies and Anthropological Studies as a means of giving a better
explanation of the variable cultural background concerning human-animal relationships.
Este estudo tem por objetivo analisar a questão da animalidade presente em Grande Sertão: Veredas, 1956, de João Guimarães Rosa. A análise se concentrará em compreender o uso da metáfora animal para determinar a essência dos personagens, para isso, observaremos o modo como o autor utiliza este recurso de forma metafísica para definir a dualidade no animal humano e a sua semelhança com o animal não-humano. Dessa forma, pretendemos comprovar que o uso de características animalizantes para ilustrar seres-humanos não sugere uma suposta posição de superioridade dos mesmos em relação aos animais, mas propõe uma visão de igualdade entre espécies. Para que esta análise seja possível, revisaremos as referências bibliográficas sobre animalidade na obra rosiana para que assim possamos estabelecer a argumentação, podendo, a partir disso, apresentar a análise proposta para este estudo. Ainda, aplicaremos as teorias canônicas sobre animalidade para exemplificar a maneira consciente com que Guimarães Rosa parece trabalhar este tema em sua obra.
A proposta principal deste trabalho é analisar a representação de animais e animalidade na literatura da brasileira sob a perspectiva dos Estudos Animais - área de pesquisa voltada para a compreensão de animalidade e animais enquanto seres vivos e imaginados. A análise se apresenta como um estudo temático e é organizada a partir da subdivisão do grande tema dos animais em oito ramificações temáticas: animais colonizados, animais idealizados, animais nacionais, animais domésticos, animais metafísicos, humanos animalizados, animais sujeitos e animais agentes. Estes subtemas exemplificam padrões culturais percebidos em obras literárias que datam desde o período colonial até a década de 1980, aproximadamente. O corpus selecionado para a presente análise se constitui de autores como Machado de Assis, Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, João Alphonsus, Lúcio Cardoso, Rachel de Queiroz, José de Alencar, entre outros, totalizando cerca de cinquenta e cinco textos literários e documentais. Neste trabalho, utiliza-se uma metodologia histórico-comparativa que visa, também, propor uma reorganização da história da literatura brasileira sob um viés temático. Não existe aqui a ambição de realizar um trabalho de historiografia extensiva, mas sim aquela voltada para a organização de um corpus que apresenta assuntos afins. Os textos literários em questão são arranjados e analisados de acordo com o tema no qual estão inseridos, não seguindo, portanto, uma ordenação cronológica. Em cada uma das ramificações temáticas estabelece-se relações interpretativas que colocam textos pertencentes a diferentes movimentos literários e períodos históricos lado a lado, a fim de demonstrar o diálogo existente entre o conteúdo de textos literários e documentais diversos.