Este artigo pretende estabelecer um diálogo com a obra de Mikhail Bakhtin Problemas da poética de Dostoiévski por meio do conto “Darandina”, de Guimarães Rosa, objetivando uma introdução concisa aos conceitos bakhtinianos. A escolha das teorias de Mikhail Bakhtin, para compor esta ligação entre literatura e psicanálise, deve-se ao fato de seus estudos literários terem influenciado o desenvolvimento cultural de vários países do mundo, inclusive o Brasil. O teorizador russo é autor de estudos influentes, contemporâneos do formalismo russo – anos 1920 e 1930 –, divulgados tardiamente no país, pelos autores Tzvetan Todorov e Julia Kristeva, em meados da década de 1960. Este conto mune-se de recursos literários metafóricos e de conceitos que incursionam pela psicanálise numa reflexão muito instigante sobre verdade evidente versus verdade representada, conceitos freudianos. A abordagem de referência se fará à teoria da carnavalização, atendo-se à sátira menipeia como essência, e às inversões de valores sociais hierárquicos, visto que o conto em estudo versa sobre a loucura, causadora de manifestação de estranhamento a olhares convencionais. O caráter ideológico do conto é importante na medida em que busca a análise de uma consciência individual, social e cultural que permeia a fronteira entre a loucura e a sanidade. Por conseguinte, ler “Darandina”, sem destacar a relevância ocupada pela psicanálise, seria afastar-se da percepção de uma sedutora riqueza de possibilidades.