Da diversidade do universo Roseano destacamos um pequeno conto: A Terceira Margem do Rio. O que buscamos nele é uma "substância” incomum, seu Fora. Sobre este ponto, o Fora, nos referimos ao pensamento de Deleuze no que diz respeito à criação de uma máquina literária potente. Pretendemos adentrar à noção de Fora, como o propôs Deleuze, penetrando em seu mecanismo à medida que refletimos sobre as particularidade do conto propostos e, em especial, das estratégias utilizadas por Rosa para manipular a linguagem de tal forma a fazer o idioma transbordar sobre si, delirar, desterritorializar-se, multiplicando-se em possibilidades e devires, o que é uma característica própria do que Roland Barthes chama de texto escrevível. Ao final, resumimos cinco estratégias de ruptura e dispersão rizomática identificadas no conto: a primeira relacionada ao tratamento dado à linguagem; a segunda à ruptura do sistema familiar e social; a terceira à multiplicação de questionamentos gerados pelo impensado da decisão do pai; a quarta, chamado de “Máquina interrogativa”, relacionada à criação do próprio lugar para onde vai o canoeiro, ligado ao título do conto; a quinta, e última, que chamamos “Final em Aberto”, é o que o próprio nome diz, uma forma encontrada para não terminar, para abrir a obra estendendo o seu fim. Por último, concluímos com as reflexões finais sobre o conceito de Fora aplicado à literatura.
Faculdade de Letras, Programa de Pós-graduação em Letras: Estudos Literários
O que se propõe neste estudo é investigar os procedimentos que em uma obra literária levam ao efeito de ―Fora na linguagem‖. O que é esse Fora? Que gama de efeitos produz? Quais os procedimentos para fazê-lo existir em uma obra de arte, na literatura em particular? Eis algumas das questões que nos interessam.
Para desenvolver tal procura em busca do Fora, utilizaremos como suporte e corpus teórico autores que seguiram a trilha do Fora na linguagem, tais como Roland Barthes, Maurice Blanchot, Gilles Deleuze, Pierre-Félix Guattari, Tatiana Salem Levy, dentre outros. Será a partir de cinco obras previamente selecionadas que exploraremos alguns dos procedimentos que levam ao Fora, assim como seu conceito aplicado à literatura: ― A Terceira Margem do Rio e ― Meu Tio Iauaretê, de Guimarães Rosa; Mar Paraguayo, de Wilson Bueno; Bodenlos: uma autobiografia filosófica, de Vilém Flusser e Bartleby, o escrivão, Herman Melville. Nosso objetivo não será analisar tais obras, mas, a partir delas, observar alguns dos procedimentos que levam ao Fora. Portanto, tomaremos delas apenas os recortes necessários.
Falaremos do que força o pensamento a pensar, do que antecede o pensar. Falaremos do Fora e do plano de imanência; dos corpos sem órgãos; dos devires moleculares e molares. Falaremos de linhas; pontos, encontros, fugas; máquinas; superfície de registro; produção, processo; fluxos e rupturas. Falaremos de limiares; entremeios; gradientes; fragmentações; linhas e margens que se desmancham, desdobram, invaginam, explodem; intensidades e potências; territorialização e desterritorialização.