O presente ensaio se propõe a analisar os contos A terceira margem do rio do escritor mineiro Guimarães Rosa, Travessia de Sérgio Faraco e O anjo da Vitória de João Simões Lopes Neto, escritores gaúchos. Foi observado, a partir da narrativa de três crianças, a tentativa de enxergar heróis nas figuras: o pai que buscou refúgio em uma canoa no rio, a busca pela sobrevivência do tio marginalizado e a morte precoce do padrinho na guerra. Os autores, através de seus heróis fragilizados, abordam de maneira particular o drama essencial, entre si mesmos e o mundo, através da imaginação das crianças que se envolvem com o arquétipo de seus heróis românticos. Considerando as referenciadas temáticas, ditas universais, algumas questões acerca da literatura regional foram ponderadas.
O presente trabalho aponta como favorável à imaginação, o contato profundo da criança com a literatura e a arte, no sentido da promoção de uma nutrição estética. Navegando pelos contos “A terceira margem do rio”, de João Guimarães Rosa, que apresenta o rio em suas três margens e “Travessia”, de Sergio Faraco, que deposita no rio sua chance de sobrevivência, discutimos amparadas em Bachelard a relação infantil com a natureza como a grande matéria da imaginação. A imagem do rio se traduz como o principal símbolo representativo da narrativa em ambos os contos, permitindo o vagar dos autores que falam do mundo e da imensidão íntima.