Guimarães Rosa foi um escritor apaixonado pela diferença, por culturas e línguas diversas,
valorizando cada uma igualmente. Sua paixão rendeu inúmeros personagens estrangeiros que são
inseridos no sertão mineiro, despertando paixão e conflito entre alteridades. O conto “Orientação” traz
uma situação ainda mais inusitada, pois narra uma história de amor entre alteridades extremas: um
chinês e uma mineira. Mostraremos como o convívio com o estrangeiro é difícil mesmo quando o
amor está envolvido na relação e como a diferença que atrai o casal é a mesma que os separa no
fim. Nessa “estória” de amor e desencanto, refletiremos sobre a situação do imigrante e veremos
como o escritor transculturador transita entre as duas culturas respeitando as alteridades.
rescem cada vez mais os estudos acadêmicos sobre imigração, exílio e das relações entre alteridades, nas mais diversas áreas do conhecimento, assim como no interior da crítica e da teoria literárias. A figura do imigrante e sua representação no espaço literário despertam bastante interesse, uma vez que nos coloca diante de uma diversidade de temáticas, de questões culturais e formais, que pedem ao crítico maior sensibilidade e pluralidade de olhares. No cenário literário nacional, o surgimento da figura do imigrante está intimamente relacionado à intensificação da imigração em fins do século XIX e, sobretudo, início do XX. Nosso intuito é dar relevância a um assunto que faz parte da formação de nossa literatura e de nossa sociedade. Para tanto, selecionamos como corpus a consagrada obra de Guimarães Rosa, reconhecido mundialmente como um dos maiores escritores de língua portuguesa, a fim de mostrar que, mesmo em uma obra canônica como essa, o tema aparece recorrentemente e de forma relevante, embora ainda seja pouco explorado pela crítica. Nas narrativas sobre imigração, temas como alteridade, identidade, hibridismo e tensão entre as diferenças ganham destaque. Por isso, a análise desse tema pode ser enriquecida com o suporte das linhas teóricas culturalistas ou pós-coloniais.
Este artigo pretende ressaltar a importância do tema do estrangeiro na obra de Guimarães Rosa. Mostraremos como o autor concede o discurso a indivíduos marginalizados, como o mulato e o imigrante no conto “A volta do marido pródigo”, e como atua como um transculturador e constrói pontes entre mundos e culturas diferentes. Mesmo quando os conflitos identitários não são solucionados, como é o caso da narrativa aqui estudada, percebe-se o respeito do autor pelas diferenças culturais, sem valer-se de estereótipos ou ideias preconcebidas a respeito de cada cultura. Evidenciaremos também como o autor ressalta a importância desses sujeitos na construção do país, seja através do braço do imigrante para o trabalho, seja na formação de um povo multiétnico, através das miscigenações, de que o retrato do mulato Lalino Salãthiel é o exemplo mais evidente.
Este artigo pretende mostrar como o tema da viagem está presente tanto na história quanto na literatura de maneira fundamental para o desenvolvimento, descoberta e aprendizado do mundo e do homem. Na literatura, especialmente, apresentaremos como a viagem é primordial para Guimarães Rosa, tanto na pesquisa de campo quanto como tema de narrativas nas quais ela atua como agente modificador das personagens e elemento desencadeador de mudanças.