A comunicação pretende estabelecer um diálogo entre o ensaio de
Emmanuel Carneiro Leão, intitulado “A terceira margem do rio”, e o conto
homônimo de Guimarães Rosa, presente na obra Primeiras estórias. O citado
ensaio, ao contrário do que o título poderia sugerir, não é uma interpretação do
conto, e até por isso ele sequer é mencionado no artigo de Leão. Entretanto, essa
ausência se afigura uma profunda presença, e daí se justifica o título do ensaio.
Trata-se de um diálogo entre dois pensadores, baseado no silêncio. Podemos dizer
que, em verdade, é justamente a partir do silêncio que Leão dialoga com Rosa. O
silêncio é que convoca o permanecer como possibilidade criativa nos espaços do
grande rio da vida, e é no entorno desse silêncio que Leão e Rosa estruturam as
figuras do pensamento artístico e filosófico. Como a imagem do personagem nosso
pai, a reflexão de Leão acerca do trabalho, do pensamento e da filosofia, articulados
no mistério, desperta a dignidade do homem que se reconhece no vigor da questão
de ser. Esta dignidade reside, não somente nos textos de Rosa e Leão, no lançar-se
para novas possibilidades existenciais. Na correspondência do silêncio que
comungam, Rosa e Leão provocam a reflexão sobre este estado, de constante
projetar-se ao desconhecido, reconhecendo que somente nele somos dignos da
colheita dos frutos, que garantem nosso sustento real.