Neste texto busco identificar as diferentes estratégias de composição de que se vale João Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas, para instituir o caráter épico de seu romance. Parto de uma consulta aos principais críticos da obra rosiana que se debruçaram sobre o assunto, sugerindo, através das diferentes hipóteses elaboradas até o momento, a importância da intertextualidade explicitamente estabelecida com as epopeias de Homero. Lendo atentamente certos trechos das respectivas obras proponho relações que demonstram a complexidade desse diálogo, no qual o escritor brasileiro tece uma leitura renovada e renovadora da tradição literária. Chamo atenção principalmente para a perspicácia com que Guimarães Rosa institui diferenças nas mais evidentes repetições, empregando de forma arejada recursos caros à antiga tradição homérica de poesia oral.
Retomando a tradição crítica de Grande Sertão: Veredas, proponho uma reavaliação da dimensão espacial – gráfica – e temporal – fônica – da linguagem desenvolvida por Guimarães Rosa. Aponto a relação entre esse trabalho com a linguagem e o desdobrar de certos temas fundamentais para o romance – sejam eles de viés metalinguístico, filosófico ou religioso – e encerro com a sugestão de que o autor promove uma efetiva realização do que narra por meio da própria linguagem. A análise das insólitas relações sugeridas entre certas palavras fundamentais para o desenrolar do romance, como “medo”, “demo”, “deus”, “diabo”, “Diadorim” e “Riobaldo”, entre outras, suscitará reflexões hermenêuticas de caráter mais amplo e sugestivo.