Obras da literatura ocidental têm em comum o conflito amoroso entre dois homens, colegas de atividade ou profissão e vítimas de preconceito institucionalizado no ambiente de trabalho e no contexto social, que os incapacita de levar a relação adiante. A partir dos romances Bom Crioulo, de Adolfo Caminha, e Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, e dos contos “Aqueles Dois”, de Caio Fernando Abreu, e “Brokeback Mountain”, de Annie Proulx, o artigo traça peculiaridades similares nas relações descritas nessas narrativas e as analisa do ponto de vista da teoria queer e de propostas do filósofo Michel Foucault.
Este trabalho discute a relação entre literatura e homoerotismo e propõe um conceito de literatura homoerótica fundamentado a partir da análise crítica de seis narrativas brasileiras que têm como foco o homoerotismo masculino. Procura entender os mecanismos que envolvem a homofobia social e seus reflexos nos estudos literários. E, ao separar o desejo homoerótico de uma identidade gay, o trabalho busca mostrar que o homoerotismo pode ser lido como elemento estético, portanto literário, inerente a estruturas de determinadas narrativas. Assim, fazemos um estudo comparativo dos personagens Aleixo (Bom-Crioulo, de Adolfo Caminha) e Bembem (O menino do Gouveia, de Capadocio Maluco), refletimos sobre o pecado e a transgressão a partir dos personagens Juca ('Frederico Paciência', de Mário de Andrade) e Riobaldo (Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa), além de fazermos uma análise comparativa entre o conto 'Pílades e Orestes' (de Machado de Assis) e a novela 'Pela noite' (de Caio Fernando Abreu).