Este trabalho tem como objeto de pesquisa dois romances: Grande Sertão: Veredas (1956), de João Guimarães Rosa e Anna Kariênina (1877), de Liev Tolstói. O objetivo do presente estudo é analisar algumas personagens femininas dos romances citados, visto que, através da pesquisa, buscaremos compreender o lugar subversivo que as personagens femininas ocupam nos romances. Para cumprir tal objetivo, o referencial teórico deste trabalho é composto, principalmente, por teorias e críticas literárias de György Lukács, Aleksandra Kollontai, Silvia Federici, Teresa de Lauretis, Teresinha Schmidt, etc. Uma vez que, a tendência teórica a ser utilizada neste trabalho diz respeito ao materialismo histórico dialético e a questão de gênero. O trabalho apresenta a seguinte composição: num primeiro momento, analisaremos o papel subversivo das personagens femininas em Grande Sertão: Veredas (1956). Com isso, diante de um segundo momento, faremos um breve discurso sobre as possíveis conexões interpretativas dos romances. Por fim, na última parte, analisaremos o lugar subversivo das personagens femininas em Anna Kariênina (1877). Dessa forma, após uma análise interpretativa das narrativas e da relação entre leitura literária e análise crítica e teórica, concluiremos o objetivo deste trabalho, que diz respeito a análise das personagens femininas nos romances e o lugar subversivo que as personagens ocupam diante das interpretações e dos argumentos dispostos nesta dissertação. A partir dessa análise, podemos perceber a importância da representatividade feminina na análise crítica literária e nas referências das práticas sociais no cotidiano.
Os estudos críticos dos chamados formalistas russos constituem um importante marco no desenvolvimento da teoria literária. Entre os integrantes desse movimento teórico encontra-se Victor Chklóvski, de quem o presente trabalho toma a noção de estranhamento na arte e a emprega como princípio norteador de uma interpretação que busque chegar a novos significados do ato de julgar. Na concepção do autor, a arte – no caso, a literatura – emerge como possibilidade de afastamento das tradicionais visões automatizantes reproduzidas pela linguagem cotidiana, que são incapazes de captar os objetos conforme suas peculiaridades. Por meio do estranhamento, as obras literárias transportam o leitor da esfera do reconhecimento para o âmbito recriado da visão. A ficção encontra-se assim capaz de decodificar a lógica que conecta os objetos jurídicos ao imaginário social por meio da familiaridade de suas práticas. A natureza do julgamento, instituição inconteste no processo civilizatório, é rediscutida em