Parece imperativo ao crítico literário, quando se trata de viajar pelas hidrografias e veredas do sertão guimarãesrosiano – seu “mundo-texto” - aceitar que o timoneiro seja o próprio escritor. Poderá o crítico verificar então se aquilo que anuncia o artista, seu projeto literário, foi materializado na tessitura das estórias que escreveu, considerando ainda o modo pelo qual se deu essa realização estética. Aí parece nascer algumas possibilidades para o bom trabalho crítico. Tento aqui, seguir essa orientação. Escolhi essa premissa para estudar a poesia em “O Recado do Morro”, conto publicado em 1956 na coletânea Corpo de Baile e que, desde 1965 – quando da sua terceira edição –, passou a ser editado no volume No Urubùquaquá, No Pinhém. Na estória em questão, acreditamos que a busca da poesia se fez de dois modos: pelo encantamento poético do escritor com a natureza dos Campos-Gerais, vivido (nas várias viagens que por ele realizou, com destaque para aquela excursão geográfica de 1952, “A Boiada”) e transformado em artefato literário, bem como pela sua experiência com a linguagem, a palavra poética. Pelo uso de duas de suas regras poéticas – a “multiplicidade de conotações” e o “desvio poético” – articuladas pelo que denominou de “Álgebra Mágica” – o escritor busca a poesia. Desse modo, mais que ser sua literatura uma prosa poética, como vem sendo proposto pela crítica, entende-se que Rosa elaborou regras próprias com as quais conseguiu fazer poesia em prosa, participando efetivamente do movimento que marcou a poesia no século XX, sendo “O Recado do Morro” a súmula dessa poética.