Durante a década de 70, Silviano Santiago, vivendo nos Estados Unidos, antecipa as novas tendências literárias com o ensaio “O entre-lugar do discurso latino-americano” (SANTIAGO, 2000), no qual, estabelece uma relação antropofágica que transforma um leitor, devorador de livros, em escritor. Entretanto, o que se pretende aclarar, através deste artigo, é a extraordinária capacidade de Guimarães Rosa em “prever” tais tendências, pois, escrevendo “Grande sertão: veredas”, quase quinze anos antes do livro de Silviano Santiago, consegue situá-lo em um patamar literário até então desconhecido para a literatura brasileira e, porque não, latino-americana.
Este artigo analisa o conto Um Moço Muito Branco, de Primeiras Estórias (1962), de Guimarães Rosa. Observa os elementos que compõem a passagem deste extraterrestre pelo sertão mineiro. Mais especificamente, verifica a possibilidade de transformação, trazida à tona, para aquela pequena comunidade, através do contato com este moço tão estranho. Assim, confronta os elementos observados com o conceito de unheimlich, segundo Freud, e do fantástico, segundo Todorov.