Noções e conceitos como atraso cultural, hegemonia, “tronco original”, matriz, “galhos secundários”, subalternidade, entre outros, permeiam as discussões sobre cultura e identidade e demarcam relações assimétricas de poder. A literatura, parte constitutiva dos processos cultural e identitário de uma nação, assimila essas relações e exemplifica, muitas vezes, tais conceitos. A partir de texto “Meu tio o Iauaretê”, de João Guimarães Rosa, analisa-se a transformação identitária da personagem e algumas das implicações culturais da narrativa.
O texto que segue tem como objetivo propor uma leitura do conto “Presepe”, de Guimarães Rosa, mostrando o caminho trilhado pelo personagem Tio Bola para reviver o momento do nascimento do menino Jesus, rompendo os limites impostos pela realidade e recuperando o instante sagrado, com todas as transformações que essa decisão acarreta ao personagem. O conto narra um instante mágico de elevação do sujeito, uma verdadeira torrente de imaginação, poesia e fé. Toda essa atmosfera está repleta de símbolos, que representam o coletivo e o individual, e compõem a trama poética do conto.