Pretendemos abordar Tutaméia, de Guimarães Rosa, enquanto obra de arte. Para isso, perguntamos: o que torna um livro uma obra de arte? Nesse itinerário, abordaremos o pensamento de Gilles Deleuze como principal referência. Se a literatura interessa-se pela filosofia, se o próprio Guimarães Rosa, no prefácio “Aletria e hermenêutica”, extrapola o limite da produção artística em direção a uma propositura conceitual do fazer literário, também a filosofia interessa-se pela literatura, quer porque dela espere um engajamento em certo sistema de pensamento, quer por que encontre o refúgio de todos os sistemas. Deleuze coloca a arte ao lado da filosofia e da ciência como os três modos fundamentais do pensamento.
A cada uma dessas caberia uma relação própria, um devir próprio, um modo diverso de relacionar acontecimentos
e estados-de-coisas, correspondendo à arte o papel de “incorporar” acontecimentos, tornar acontecimentos
“blocos de sensação”. Nesse sentido, as considerações, portanto, que deixam entrever uma compreensão do último livro de Rosa, o qual, por algumas vezes, recorre a elementos intertextuais, não deixam de ser uma compreensão eminentemente intratextual, uma perspectiva do livro pelo livro que se recusa a buscar na figura do autor-pessoa, ou em categorias tomadas de empréstimo à psicologia, à psicanálise, à sociologia ou a qualquer outra ciência, os elementos necessários
à sua sustentação. Buscaremos, com isso, uma compreensão, e, ao mesmo tempo, deixar abertas as múltiplas perspectivas sobre a obra, uma vez que é próprio dessa compreensão perspectivista manter o livro aberto, como infinitude da narrativa.