O presente artigo traz uma reflexão a respeito da construção da memória de uma personagem infantil, em uma narrativa de ficção, influenciada pelas memórias coletivas de seus familiares e agregados. A leitura do conto Campo Geral (2001), de João Guimarães Rosa, motiva tal discussão, tendo em vista que o protagonista, com o nome de Miguilim, é um menino sensível que se apoia em suas percepções sensoriais e nos relatos dos que com ele convivem para edificar a sua própria memória e para se iniciar na compreensão do meio em que vive. É através dos sinais externos, do espaço e da memória coletiva que a personagem constrói e desconstrói a sua estória e a de sua família. O protagonista convoca as lembranças para criar um elo entre as suas sensações e a realidade que o cerca, ainda que sejam recordações oriundas de uma mente demasiadamente jovem e, por isso mesmo, pouco experiente. A fim de compreender a formação da memória, nessa fase da vida, faz-se necessário o suporte teórico dos autores Iván Izquierdo (2011), que trata da memória sob a perspectiva da neurociência, Alan Baddeley (2011) e seus colaboradores, que pesquisam sobre a formação da memória e Maurice Halbwachs (2015), que relaciona a aquisição da memória ao contexto social. Além desses estudiosos, pesquisadores como Doreen Massey (2008) e Gaston Bachelard (s/d) também contribuem com seus estudos, ao refletir sobre a importância do lugar e do espaço. Através desse entrelaçamento de teorias, pode-se vislumbrar algumas formas de aquisição e conservação da lembrança infantil.
O artigo investiga a verossimilhança na voz narrativa de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, a partir da hipótese, indicada por Dirce Côrtes Riedel em Meias-verdades no romance, de que teria sido o “senhor” interlocutor, e não o ex-jagunço Riobaldo, quem teria escrito o relato, configurando-se assim como uma espécie de supranarrador. Para reiterar essa possibilidade, retoma-se a questão da verossimilhança e da funcionalidade de certos elementos linguísticos na narrativa. Com isso, propomos uma ampliação das leituras do romance rosiano tendo em vista a hipótese acima.
O presente artigo analisa a colaboração de Dirce Côrtes Riedel para a recepção crítica de Guimarães Rosa, levando em conta a publicação de ensaios e livros dedicados à obra do autor. Acrescenta ainda
o papel da intelectual na formação de professores e pesquisadores de várias universidades do país.