O presente artigo busca discutir o conceito de transculturação na contística do escritor mineiro João Guimarães Rosa. Para realizar tal discussão, elegeu-se como corpus de análise o conto “Orientação”, presente na coletânea Tutaméia (1967). O termo “transculturação” foi elaborado por Ortiz (2002) para explicar a formação cultural do continente latino-americano. Posteriormente, tal expressão foi aperfeiçoada pelo crítico uruguaio Ángel Rama (2001) para designar o processo de revitalização da literatura regionalista frente à modernidade. Por essa perspectiva, a prosa regionalista adquire uma roupagem nova, ultrapassando a denúncia da realidade do subalterno sertanejo. Munido de uma visão crítica e problematizadora, o escritor percebe, pelo viés dialético, as dinâmicas e contradições que regem os discursos hegemônicos quando se propõe a definir conceitos como “identidade” e “cultura”. Para Rama (2001), existem três níveis fundamentais de transculturação para o romance latino-americano: revitalização da língua, estruturação literária e cosmovisão, elementos seguramente presentes na ficção rosiana.