Este artigo tem como objetivo apresentar um estudo comparado entre o romance Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, e a Chanson de Roland,obra anônima da tradição medieval francesa. Procuro demonstrar como o processo de criação da obra rosiana, que repousa sobre a linguagem, a memória e um imaginário próprio do território sertanejo, remete o leitor à escrita desta canção de gesta que remonta ao século XI; mais precisamente, procuro mostrar como João Guimarães Rosa, sobretudo
em algumas passagens épicas da sua narrativa, procede à apropriação textual da Chanson, como se dela fizesse uma paráfrase no nível mesmo da enunciação literária. Assim procedendo, seu processo de criação sustenta-se na intertextualidade, caracterizando-se como um exercício dialógico que extrapola o caráter documental da narrativa regionalista para afirmar sua ficcionalidade. Ressalvo, ainda,que este procedimento não se caracteriza como excentricidade ou extravagância, na medida em que o imaginário medieval, na intersecção dos universos culturais, encontra-se vivo e presente em nossa tradição sertaneja.Trata-se, pois, de um procedimento antropofágico.
Este artigo visa analisar, comparativamente, a narrativa transculturadora instituída em torno do Sertão e de Andara, espaços onde, respectivamente, as obras Grande sertão: veredas (1956) de João Guimarães Rosa e Viagem a Andara: o livro invisível (1988), de Vicente Franz Cecim, se desenvolvem. Segundo Ángel Rama (1926–1983) a narrativa transculturadora repensa a cultura regional aproveitando contribuições da modernidade. Assim, Guimarães Rosa e Cecim ultrapassam o localismo restrito, para transculturá-lo, rearticulando a cultura da região com o moderno.
Objetiva-se neste, estudo analisar, comparativamente na novela Tonka (1924) – do escritor austríaco Robert Musil – e no conto Desenredo (1967) – do escritor brasileiro João Guimarães Rosa – como estes autores se atêm à relação entre o amor, o ciúme a desconfiança e a posse e como, na novela de Musil, o amor é fonte de perdição, enquanto, no conto rosiano este – além de fonte de dor – o é também, de salvação. Ater-se-á, ainda, à comparação da conflituosa relação homem versus mulher, também presente na música Tororó, de Chico Buarque.