O presente trabalho busca identificar os fragmentos do religioso presente na Obra Grande Sertão: Veredas. Um religioso que faz parte do cotidiano de seus personagens de forma singular, não estruturada, ambígua, clara e obscura. Portanto, a análise não se detém na história de amor triangular entre Riobaldo-Diadorim-Otacília nem em reflexões sobre a vida, a travessia, o sertão. Busca, em vez, extrair de um contexto mais amplo o que tem relação com o religioso, porém intimamente vinculado às questões existenciais e morais.
A narrativa de Grande Sertão: Veredas é aqui problematizada a partir de sua estrutura paradoxal e fragmentada. As reflexões do narrador Riobaldo, sobre Deus e a religiosidade, não apresentam um pensamento orgânico, mas oscilam entre a certeza e a dúvida e instauram um desassossego no relato. A inquietação de Riobaldo aponta para o caráter transcendente da personagem, que trata de entender e até mesmo de explicar qual é o sentido do duelo entre o bem e o mal. A secura e a aridez do sertão, mescladas com as veredas fluviais da natureza, podem ser entendidas como uma metáfora da condição sentimental do ser humano diante do mundo.
O presente texto trata sobre a questão da verdade, certeza e ambiguidades existentes no sertão e os perigos e caminhos seguidos por seus habitantes. Essas questões são vistas em ambiguidades nas imagens de Deus e do diabo, dentro da obra Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa.
Este texto pretende compartilhar a experiência da ler Grande Sertão: Veredas, de JoãoGuimarães Rosa, a luz das leituras e discussões ocorridas na disciplina “O imaginário religiosopopular e sua lógica”, conduzida pelo Prof. Dr. Ênio Jose da Costa Brito e reflexões em torno dotema do sagrado, objeto da minha pesquisa com as Danças Circulares Sagradas.
Grande Sertão: Veredas é o tipo de obra cuja multiplicidade intrínseca garante aexistência quase que retroalimentada de análises a partir dos mais diversos pontos de vista.Autores de renomada competência já ofereceram olhares psicanalíticos, literários e religiososque compõe o mosaico construído ao redor da obra prima de Guimarães Rosa. Este trabalhosegue essa última linha, a das interpretações a partir das inflexões religiosas que permeiam aobra. De maneira ainda mais específica, ele percorre o caminho das imagens e dos símbolos quese ligam à morte. Para isso, procuramos antes traçar algumas considerações, ainda quesuperficiais, sobre a morte, em si, dentro da lógica da cultura popular. Isso porque, embora amorte seja um denominador comum da humanidade, esse não é o caso domorrer, que, entendido quanto às maneiras de lidar com a morte, se constrói e sesolidifica nas fronteiras da cultura e, portanto, assume diferentes formas. A partirdisso, veremos então que, em Grande Sertão: Veredas, as mortes são tão partedo enredo que nem sempre chocam ou fazem pensar no mórbido, mas sãosempre tão encaixadas e ricamente contadas que não se pode ignorá-las oudeixar de se questionar sobre seus significados.