JOÃO GUIMARÃES ROSA
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Línguas & Letras
2019, v. 19, n. 45
Artigos
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A escritura anagramática de
Grande Sertão: Veredas
Evelina Hoisel
p. 8-28
A escritura de Grande sertão: veredas, ao reconstituir sua linhagem, fundamenta-se na hybris, na desmedida instauradora do trágico, elemento constitutivo do drama desde os primórdios da sua história no Ocidente. A hybris faz explodir o substrato linguístico da escritura, espalha-se na constelação de signos, onde se observa um excesso de significantes e de significados, transbordamento que instala a transgressão - força dionisíaca geradora do trágico - no próprio corpo da linguagem. Para esta reflexão procura-se recortar diversos fios entrelaçados para reconstituírem biograficamente a constelação dos signos de Grande sertão: veredas. Em um primeiro movimento, esboça-se o parentesco entre a escritura de Grande sertão e a de Ulysses e Finnegan's Wake, de James Joyce, pois, do ponto de vista estritamente linguístico, elas se irmanam por terem deflagrado a hybris, a transgressão que atinge diretamente o corpo físico da linguagem, por meio do estilhaçamento e fragmentação dos significantes e significados. Nesse sentido, tanto Rosa como Joyce submetem a língua a uma agônica dramatização fundamentada nesse elemento dionisíaco e trágico. Em um segundo andamento, procura-se compreender como esse elemento transgressor no plano dos valores estéticos e linguísticos repercute nos valores históricos, sociais, religiosos e éticos.
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Narrar é resistir: os processos de transculturação narrativa em "Meu Tio o Iauaretê", de Guimarães Rosa
João Pedro Lima Bellas
p. 29-44
Em suas manifestações iniciais, a literatura na América Latina desempenhou um papel determinante no processo colonizador, funcionando muitas vezes como expressão dos padrões culturais do colonizador. Conforme desenvolveu-se, entretanto, a produção literária latino-americana possibilitou uma resistência às tendências colonizadoras, promovendo o resgate e revalorização de elementos característicos das tradições culturais nativas do continente americano. Esse papel de resistência foi amplamente estudado pelo crítico uruguaio Ángel Rama, sobretudo em seus escritos sobre a transculturação narrativa, conceito formulado a partir das contribuições do antropólogo cubano Fernando Ortiz. Rama mostrou-se particularmente interessado pelo modo como alguns escritores latino-americanos rearticularam no âmbito ficcional os aspectos próprios das tradições populares das regiões rurais da América Latina, criando a partir da fala dos habitantes do interior uma linguagem literária mais apropriada para expressar a visão de mundo engendrada por esses elementos culturais. Um dos autores estudados por Rama é Guimarães Rosa. De fato, os pontos centrais da proposta poética do escritor mineiro vão ao encontro do conceito de transculturação desenvolvido pelo crítico uruguaio. Nesse sentido, a proposta deste artigo é analisar o conto “Meu tio o iauaretê” (1961) para explicitar os procedimentos de transculturação narrativa empregados por Guimarães Rosa. O objetivo é explorar a partir da obra rosiana o papel de resistência cultural desempenhado pela literatura latino-americana, mostrando como o conto contribui para uma reafirmação e valorização de elementos próprios da cultura indígena frente a problemática da colonização.
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Literatura e filosofia: o papel do excluído em Guimarães Rosa e Herbert Marcuse
André Francisco Freire Monteiro
p. 45-55
O presente trabalho analisa a figura do “excluído” no conto Famigerado pertencente à obra Primeiras Estórias de João Guimarães Rosa (1908-1967), e a partir da Teoria Crítica da Sociedade de Herbert Marcuse (1898-1979). Com base em uma revisão bibliográfica, observa-se que na filosofia de Herbert Marcuse os excluídos despontam como sujeitos capazes de mudar a realidade que estão inseridos. No conto Famigerado verifica-se que Damázio é um notório excluído da sociedade brasileira, excluído economicamente, excluído das cidades e um não-escolarizado que não tem acesso ao conhecimento produzido em linguagem oficial. Mas Guimarães Rosa não o retrata como um incapaz, mas sim um homem que tem o poder das armas, que luta para sobreviver e ter uma vida que considera digna. Marcuse define a literatura como uma das dimensões estéticas que estabelecem negação a realidade hodierna e pode falar a linguagem e experiência dos oprimidos e excluídos.
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Mutum, um texto que fala com outro texto é uma encenação de vozes
Salete Paulina Machado Sirino
p. 56-74
No contexto da Literatura e Cinema tendo como foco a tríade autor-texto-leitor, realiza-se uma leitura de Mutum (2007), de Sandra Kogut, transposição fílmica da novela Campo geral/Miguilim (1956), que integra a obra Corpo de baile, de João Guimarães Rosa. Considerando a premissa de Mikhail Bakhtin de que um texto que fala com outro texto é uma encenação de vozes, tal práxis de leitura busca desvelar, tanto no livro de Guimarães Rosa quanto no filme de Sandra Kogut, como a voz do protagonista Miguilim resulta de sua interação com o Mutum – espaço geográfico e social no qual esta personagem está inserida.
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"A terceira margem do rio" e o realismo fantástico da revista Planète
Márcia Valéria Martinez de Aguiar
p. 75-85
Ao ler a correspondência de João Guimarães Rosa com seu tradutor francês, Jean-Jacques Villard, surpreendi-me ao descobrir que um de seus contos mais conhecidos, A terceira margem do rio, havia sido publicado na revista Planète, editada pelos pais do realismo fantástico Louis Pauwels e Jacques Bergier. A revista, criada na esteira da comoção provocada por O despertar dos mágicos, colocava-se, antes de tudo, contra o positivismo científico dominante na época e levava em conta os fenômenos paranormais, a alquimia, as capacidades inexploradas do cérebro humano. “Rien de ce qui est étrange ne nous est étranger ” era o lema da revista. Neste artigo, pretendemos, por um lado, contar a estória da publicação e da tradução desse conto e, por outro, pensar esse fenômeno como integrado ao modo como as obras de Guimarães Rosa foram recebidas na França dos anos 1960.
Palavras-chave do autor:
Guimarães Rosa
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Planète
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realismo fantástico
Palavras-chave atribuídas pela pesquisa:
tradução
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"Pirlimpsiquice": um extraordinário faz-de-conta
Flávia Brocchetto Ramos
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Marli Cristina Tasca Marangoni
p. 86-100
O presente artigo problematiza por meio da análise a intervenção do fantástico no conto “Pirlimpsiquice”, que integra a obra Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa. Ao centralizar o episódio extraordinário da realização de uma peça teatral por um grupo de meninos de um Colégio de padres, a narrativa tematiza a palavra infantil como elemento transformador da realidade. A partir de proposições de Chaves (1978), Rosset (1998), Mello (2000), Jenny (1979) e Nitrini (2000), a discussão aborda o estabelecimento do duplo e a intertertextualidade no universo narrado, como recursos para a concretização do fantástico. A investigação indica que, no conto em análise, o faz-de-conta infantil funde-se ao faz-de-conta teatral e a representação assume o lugar do representado, estabelecendo uma tensão entre o imaginado e o real. Por sua condição imprevisível e inacabada, a nova realidade instaurada pela palavra infantil coincide com o viver verdadeiro, revelando o “transviver” protagonizado pelas personagens.
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Uma experiência de leitura da obra de João Guimarães Rosa em comunidades do Vale do Urucuia
Rosa Amélia Pereira da SILVA
p. 101-119
Discorre-se, neste relato acerca de uma pesquisa relacionada à recepção da obra de João Guimarães Rosa no Vale do Urucuia, cenário de parte do romance Grande Sertão: Veredas. O objetivo principal da pesquisa foi levar a leitura dos textos rosianos às comunidades que se situam no território que inspirou o autor. Além disso, objetivou-se também desenvolver o letramento literário na mesma região. Destacam-se as “cirandas dialógicas” como procedimento metodológico eficaz, uma vez que os participantes do projeto se envolveram com os textos, mesmo com a ideia pré-formada de que a leitura do autor é difícil e para um grupo seleto. A proposta percorreu 5 comunidades da região e, a partir do relato, observam-se resultados positivos em relação à leitura de João Guimarães Rosa pelo interior do país: primeiro, as pessoas mais humildes e com pouca educação formal têm plenas condições de ler a obra do autor; segundo, o letramento literário, assim como outros letramentos, pode ser desenvolvido se houver um cuidado com as estratégias aplicadas para este fim.
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Guimarães Rosa: incursões poéticas no palco
Lourdes Kaminski ALVES
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Ney Piacentini
p. 149-153
O ator do espetáculo solo Espelhos, baseado em contos de Machado de Assis e de Guimarães Rosa, Ney Piacentini contribui, de modo singular, com o número temático da Revista Línguas&Letras, edição comemorativa, voltada aos estudos críticos e criativos em torno da obra de Guimarães Rosa, por meio de entrevista, por nós intitulada Guimarães Rosa: Incursões poéticas no palco.
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