Instituto de Letras. Programa de Pós-Graduação em Letras.
O presente trabalho busca analisar o sertão e as personagens que Guimarães Rosa imortalizou em Grande Sertão: Veredas, focando, principalmente, o modo como o autor aproveita materiais apreendidos da própria experiência, aliando-os a recursos imaginativo-fabulares de que se utiliza amplamente, recriando ou mesmo deformando a realidade em prol do universo ficcional. Igualmente, busca-se averiguar a formação dos homens e o papel das mulheres no ambiente sertanejo criado por Rosa, espaço recoberto por valores masculinos, território violento e, aparentemente, hostil ao elemento feminino. Para tanto, toma-se como base teórica os estudos sobre a família patriarcal realizados por Gilberto Freire em Casa Grande & Senzala e Sobrados e mucambos, bem como os estudos acerca do romance de Guimarães Rosa desenvolvidos por Kathrin Rosenfield e Luiz Roncari, entre outros. Dá-se destaque para a relação de Riobaldo com as mulheres, além de empreender-se uma análise mais apurada da personagem Diadorim, a ―moça virgem‖ que encarna a aparência e os valores de um jagunço destemido a fim de vingar a morte do pai e promover a ordem no sertão. Seguindo o estudo, avalia-se a travessia de Riobaldo, investigando a transformação do protagonista/narrador ao longo da narrativa: de pobre menino, órfão e sem pertences, a chefe destacado e herói, até finalmente tornar-se fazendeiro. Por fim, volta-se a presente análise para o narrador e a confiabilidade de seu relato, enfatizando-se os artifícios empregados ao longo da narração para atrair e/ou ludibriar o interlocutor (e o leitor). Após várias leituras do livro, com o apoio do referencial crítico-teórico, a principal conclusão que se extrai do estudo de Grande Sertão: Veredas é que seu texto, habilmente arquitetado, conduz a uma leitura encantatória e, não raro, ingênua. Quem pretende de fato apreender o livro, deve ser meticuloso e atento, empregando esforço crítico e constantes releituras para desvendar os significados ocultos por detrás de suas paisagens, aventuras e artimanhas narrativas. Espera-se, com este trabalho, promover a reflexão e ampliar as possibilidades de leitura e compreensão da obra rosiana.
Instituto de Letras. Curso de Pós-Graduação em Letras
A presente dissertação trata dos tipos de discurso que se evidenciam em nove versões da história infantil Chapeuzinho Vermelho, nem sempre com este título, escritas por Perrault, Grimm, José Fernando Miranda, Georgie Adams, João Guimarães Rosa, Pedro Bandeira, James Finn Garner, Chico Buarque e Carlos Lyra, ao longo de um período de quatro séculos, entre o século XVII e século XX. A primeira parte constitui-se de aspectos preliminares, como a narração de histórias, função dos contos de fada, bem como os pressupostos teóricos da Análise do Discurso (AD) e os princípios teórico-metodológicos, norteadores da análise, necessários para acompanhar a seqüência do trabalho. A segunda parte trata da análise propriamente dita. Os sentidos que se revelaram, mediante análise do discurso presente nas diferentes versões da história, evidenciam as diferentes condições em que foram produzidos. Foram identificados sentidos que apontam para uma repetição e também sentidos que apontam para uma renovação, outros, ainda, que se situam num ponto intermediário entre esses extremos.
Instituto de Letras. Programa de Pós-Graduação em Letras
Neste trabalho estudamos o livro Os Contos de Belazarte, de Mário de Andrade, publicado em 1934. Nosso primeiro passo foi mostrar o descompasso entre o narrador e o que ele narra. Para isso, iniciamos na origem do narrador (primeiro nas histórias de Pedro Malasartes, depois nas Crônicas de Malazarte, textos do próprio Mário publicados na revista América Brasileira), baseado na tradição oral de contar histórias. Depois, tornou-se importante trabalhar com a história de São Paulo, intrincada na narrativa. Isso foi possível com o estudo da imigração e da tradição italianas da cidade, bem como da modernização, que aparece com inúmeras incoerências e é forjada, principalmente, no trabalho das pessoas do subúrbio. Analisamos também o conjunto da obra: desde as escritas e reescritas do texto até o mapeamento das mudanças de uma edição para outra. Nosso objetivo foi analisar a intenção de conjunto e de organização dos contos, o posicionamento do narrador, as escolhas narrativas, a organização dos contos, enfim, o que faz do livro um projeto estético. Por último, comparamos o conto “Piá não sofre? Sofre.” com outros que seguiam o mesmo tema: o universo infantil. A ideia foi traçar uma linha comparativa entre soluções de representação da infância e de desenvolvimento de narradores de outros contos com a mesma temática de autores como Machado de Assis, Alcântara Machado, Guimarães Rosa e do próprio Mário de Andrade.
Instituto de Letras. Programa de Pós-Graduação em Letras.
Este trabalho procura acompanhar a trajetória de personagens infantis de Guimarães Rosa e de Raduan Nassar, a fim de compreender os textos literários à luz de sua época – o Brasil da segunda metade do século XX. O objetivo é analisar se, nesses autores de obras consideradas tão universais, existe a particularidade brasileira em primeiro lugar nas narrativas. Para tanto, procedeu-se aos estudos dos ritos de passagem pelos quais passam essas crianças, observando também os movimentos do narrador de aproximação ou de afastamento desses personagens. Aponta-se, por fim, as marcas do país – a condição social, a situação política do período e também os próprios costumes – como elementos importantes na constituição dessas obras.
Instituto de Letras. Programa de Pós-Graduação em Letras.
Grande Sertão: veredas ocupa um lugar no cânone literário brasileiro que apenas outros dois ou três romances, se muito, podem ocupar. Devido a isso, uma “enxurrada” de comentários e de leituras foram produzidos sobre a obra, nem sempre partindo dela para compreender seus possíveis sentidos. Este trabalho de pesquisa analisa a obra em seus diversos aspectos (da temática aos personagens, passando por tempo, espaço e narrador) para tentar entender sua dinâmica quase sempre ambígua e volátil. Para tanto, utilizo, aqui, o conceito de liquidez, cunhado por Bauman (2001), oferecendo uma leitura da obra a partir do olhar moderno. Esse comentário se alinha a outros que apontaram a reversibilidade e a mistura de GSV, mas contrasta com alguns, que tentaram fazer uma leitura cristalizada da obra, que não dá conta de todas as suas particularidades.