A partir da fenomenologia hermenêutica de Martin Heidegger, tentaremos mostrar que o
Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, pode ser lido como uma experiência
mitopoética da própria condição humana. Ora, para Heidegger, em sua Carta Sobre o
Humanismo, de 1946, a linguagem não é apenas um instrumento de comunicação, mas a
“casa do Ser, a habitação do homem”. Para ele, a linguagem poética, ao ultrapassar a
dimensão do conhecimento lógico-científico, que é incapaz de compreender o Ser em
sua mais profunda manifestação no mundo, é a única capaz de resgatar o homem do
“esquecimento do Ser”. No seu “A caminho da linguagem”, de 1959, ele vai colocar
que “Enquanto aquele que fala, o homem é: homem (...) Mas ainda resta pensar o que se
chama assim: o homem”. Acreditamos que Grande Sertão é a grande tentativa rosiana
de “pensar” essa questão, e que toda a invenção e experiência de linguagem - marcada
pelo hibridismo, pela ambivalência, pela diluição de fronteiras – resultam de um
Riobaldo impelido rumo às dobras e desdobras da existência humana, “des-ocultando”
um “homem humano” marcado pela fragmentação, pelo profundo dilaceramento, pelas
incertezas. Enfim, o que resulta é o “homem humano”, travessia “nonada”. E o sertão
rosiano, enquanto obra poética, se apresenta como desvelamento da condição própria do
homem.
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