O presente artigo tem como objetivo analisar a construção discursiva do corpo feminino na representação literária de donzela-guerreira, e como esse corrobora para a desnaturalização do sexo e para a ruptura dos padrões de gênero. Dessa maneira, observamos a presença da donzela na tradição ocidental, passando pela literatura brasileira até sua aparição nos romances Luzia-Homem (1903), de Domingos Olímpio; Dona Guidinha do Poço (1965), de Manuel Paiva, Grande Sertão: Veredas (1956), de Guimarães Rosa e Memorial de Maria Moura, de 1992, de Raquel de Queiroz. A donzela-guerreira integra a literatura, as civilizações, as culturas, a história e a mitologia. Desse modo, a representação dessa mulher marca o imaginário de diversificadas culturas e possibilita repensamos os papéis da mulher em distintos momentos históricos. Buscamos compreender o corpo da donzela como elemento performativo para a construção de uma identidade feminina que dialoga com o masculino, assimilando seu discurso hegemônico para burlá-lo. A compreensão de performatividade aqui adotada é trazida por Butler (2008). Assim, as contribuições da autora são pertinentes, já que considera que o masculino e feminino não são categorias possuídas de antemão, mas efeitos que produzimos por meio da realização de ações específicas.
Esta pesquisa sobre as adaptações dos romances nacionais para a TV, no formato minissérie, procurou apreender como os conceitos e as imagens do sertão e do jagunço na televisão plasmaram um regionalismo e, conseqüentemente, revelaram-se como uma forma particular de resgatar a brasilidade, a qual havia sucumbido ao processo de globalização que nos levou a cidadãos do mundo. Depois de percorrer as obras nacionais que foram para a TV e tiveram o sertão e o jagunço como temas, este estudo centrou-se nos romances Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa e Memorial de Maria Moura, de Rachel de Queiroz, que marcaram um tempo (duas décadas, 80 e 90) de travessia do jagunço pelo sertão brasileiro na televisão nacional. A análise da,obra imagética permitiu acompanhar a construção dos conceitos e constatar a visão de mundo romântica de seus produtores. Não obstante, ao recriarem a obra original (literária) pelos recursos audiovisuais com um sentido realista, definindo o,regionalismo, eles afirmaram, pela especificidade da sua linguagem da TV, tanto a História quanto um modo de ser brasileiros. Esta ambigüidade foi reconhecida a partir de uma leitura dialética, isto é, por meio da ampliação de uma análise,compreensiva para uma análise explicativa, a qual permitiu que os romances e as sua recriações fossem inseridos numa estrutura mais ampla - o contexto histórico. O trabalho de produção ficcional da TV, em sua recorrência à literatura para falar,do Brasil, voltou às origens da ficção, valendo-se dos gêneros épico e dramático, que se interpenetraram e fizeram o telespectador participar de uma história de heróis, homens e mulheres de um passado cruel e violento de nossa História. O olhar para o passado se fez pelos resíduos que sobrevivem no mundo contemporâneo, tocando de perto a História do telespectador. Nesse percurso, o formato minissérie consolidou-se como um campo do experimento, do lírico e da memória. Por isso ) tudo, foi possível concluir que os autores fizeram um espetáculo socialmente produtivo e artístico.
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