Este trabalho propõe-se a examinar as duas versões francesas de Grande Sertão: Veredas, separadas por um intervalo de quase trinta anos, e verificar como elas procuram recuperar a poética roseana. Para tanto, discute-se, com o auxílio dos críticos de sua obra e do próprio Guimarães Rosa em sua correspondência com seus tradutores, em que consiste essa língua especial que é o português-brasileiro-mineiro-guimarãesroseano, em que falado e escrito, realidade e ficção, prosa e poesia, sujeito e objeto são indissociáveis. A impossibilidade de submeter a escrita de Rosa a essas categorias estanques levou-nos a eleger o ritmo, tal como elaborado por Henri Meschonnic, como o conceito que poderia nos guiar nas análises das traduções do romance de Rosa. Desvendando o sujeito como ponto crucial do ritmo, Meschonnic recoloca todo escrito literário e toda tradução em sua história, fazendo-nos entender que os conceitos de poética que os regem são ligados às representações que certa época tem de literatura. A partir das críticas de imprensa, procuramos então reconhecer o universo literário peculiar que acolheu cada uma das versões de Grande Sertão: Veredas na França, para finalmente observar como cada tradução é manifestação da leitura historicizada da obra.
Esta dissertação tem como objetivo o estudo comparado das personagens infantis em Mia Couto (Moçambique) e Guimarães Rosa (Brasil). Os textos dos autores são tomados de um ponto de vista supranacional, partindo do fato de que os sistemas literários dos dois países se integram em um macrossistema de literaturas de língua portuguesa. Focalizamos a infância como tema estruturador das seguintes narrativas: "As margens da alegria" (Rosa, 1969), "A menina de lá" (Rosa, 1969), "Campo geral" (Rosa, 1984), "Nas águas do tempo" (Couto, 1996), "O poente da bandeira" (Couto, 1996) e Terra sonâmbula (Couto, 1995). Nesses textos, a infância é abordada como um tempo privilegiado de aprendizagem do real. O relacionamento da criança com o mundo se dá de modo diverso nas culturas brasileira e moçambicana, o que determina diferenciações na construção das personagens. Em ambos os autores, a personagem infantil é o aprendiz por excelência, para quem as descobertas do mundo e da palavra são essencialmente lúdicas. Tal ludicidade aproxima a criança do poeta que, no seu fazer artístico, desconstrói a linguagem e recria-a de outra forma, conferindo-lhe significações sempre novas.
O objetivo deste trabalho é analisar como João Guimarães Rosa reinterpreta o mito clássico de Dionísio em "A hora e vez de Augusto Matraga"; última novela de Sagarana. A estrutura mítica que possui a novela confirma-se não só pela trajetória de queda e ascensão de Matraga que a identifica com o mito clássico grego (além de outras narrativas como a biografia de São Francisco de Assis), como também pelos elementos míticos intrínsecos na narrativa. Nessa reinterpretação mítica também podemos reconhecer, na nova postura de Matraga, um comportamento histórico do Brasil dos anos 30 e 40. Assim, temos, na atualização do mito dionisíaco, a racionalização do mesmo quando podemos enxergar nele uma discussão histórica em torno do Coronelismo vigente da época. Matraga, ao regenerar-se, deixa exemplo de comportamento para cada indivíduo de seu povoado na sua trajetória de renascimento (viés mítico) e, nesse novo comportamento, traz um início de nova ordem para o coronelismo local (viés histórico).
A busca pela matéria popular é um ponto de contato fundamental entre as obras de Mário de Andrade e Guimarães Rosa. Valorizando a vivência direta do Brasil dito "profundo", ambos empreenderam pesquisas de campo de cunho etnográfico pelo interior do país. Em meio à riqueza documental das respectivas viagens, dois personagens mereceram tratamento especial: o coqueiro Chico Antônio - retratado por Mário de Andrade na série Vida do cantador, publicada na Folha da Manhã entre agosto e setembro de 1943 - e o vaqueiro Manuelzão - que inspirou o protagonista de "Uma estória de amor", publicado por Guimarães Rosa em 1956 no conjunto do Corpo de baile. Os nexos entre os contos são substanciais: além da viagem como gênese, destacam-se a homonímia e homologia dos protagonistas com personagens reais, a ficção guarnecida de lastro etnográfico e os enredos talhados pela tradição oral. Na constituição do foco narrativo, entretanto, sobressaem disparidades importantes: enquanto a aderência empática rege a perspectiva do narrador rosiano em relação a Manuelzão e ao universo sertanejo em questão, a instabilidade e o pessimismo marcam o ponto de vista do narrador marioandradino em relação a Chico Antônio e a seu contexto histórico. A partir da análise do foco narrativo em Vida do cantador e "Uma estória de amor", a presente dissertação desenvolve uma leitura comparada dos contos, realçando nuances de contraste nos pontos de vista dos dois narradores, à luz das perspectivas dos autores em suas relações com o popular.
"As mulheres e o mundo do sertão na obra de Guimarães Rosa" é uma leitura de Grande sertão: veredas e das novelas "Dão-Lalalão" e "Buriti", com incursões em outros textos que, em determinado momento, foram considerados importantes para ilustrar um ponto de vista de análise ou evidenciar um traço recorrente do autor. A atenção deste escrito está voltada para a linguagem, não para observar a riqueza da criação de palavras e a maneira originalíssima de relacioná-las entre si, mas como ferramenta de criação de um mundo de significados presentes na alma humana, no caso, expressa pelo retrato do homem do sertão de Minas Gerais, mas de forma alguma reduzida por limites de espaço ou de tempo. Entre os elementos narrativos, este estudo privilegia as personagens, sempre complexas. Complexidade que se expressa no ritmo dos eventos, marcados por idas e vindas não apenas espaciais e temporais-cronológicos, mas também e principalmente pela dosagem de informação fornecida em cada situação. As personagens se dão a conhecer por suas ações, falas e reflexões, mas nem sempre as ações são decisivas ou a fala é conclusiva; o próprio pensamento muitas vezes é conjetura, suposição, desconfiança. O universo do texto de Guimarães Rosa é essencialmente povoado de homens. As mulheres ocupam menos do que eles o espaço público das histórias, mas isso não deve nos enganar quanto à densidade da personagem feminina, ao significado do seu estar no mundo e sua ressonância sobre o destino dos homens. Os homens supõem coisas acerca das mulheres, e raramente sua suposição é confirmada ou desmentida por elas mesmas ou por alguém que saiba mais delas do que o personagem masculino. De Doralda sabemos o que Soropita sabe, mas, como ele está sempre se surpreendendo com ela, desconfiamos que pode haver muito mais. Diadorim quase nada conta de si a Riobaldo, e o que conta é pouco relevante. Diadorim faz confidências à mulher do Hermógenes, e, para esta ) leitura, o ato da confidência "àquela" mulher, mais do que o conteúdo confidenciado, apresenta-se como demarcador de mundos, ressaltando que o mundo feminino tem mistérios, verdades complexas que a simples palavra nem sempre traduz. Lembremos aqui a relação amorosa entre a mãe e a filha de Sorôco cuja densidade a cidade não soubera perceber. O papel de Lalinha em "Buriti" é exemplar. Naquela fazenda de fim de mundo, aonde chegou resguardada pelo pai do ex-marido, ela vai iluminar o destino não só de Maria da Glória em seu estado de tardia puberdade, mas de todos dali, homens e mulheres. Sua imagem, que para aquela gente sertaneja era de quem parecia não ter o juízo no lugar, desestabiliza verdades seculares e instiga ao convívio com o diferente.
O objetivo deste estudo é mostrar como se dá o processo de individuação das personagens de Guimarães Rosa, nos contos Substância, Estória Nº3, A estória do homem do pinguelo, Um moço muito branco, As margens da alegria, Os cimos, A terceira margem do rio, e na novela A estória de Lélio e Lina, sob a perspectiva junguiana. Segundo o psicólogo, o embate com o outro, a relação de alteridade, é condição fundamental para a maturação psicológica do indivíduo. Somente através do confronto com o não-eu, o sujeito pode lograr atingir o seu si-mesmo, ou seja, atingir a máxima expressão de suas potencialidades inerentes. Demonstrarei como, nas narrativas citadas, a relação muitas vezes problemática entre opostos é a via de superação dos problemas existenciais vivenciados pelas personagens.
A presente dissertação propõe-se a analisar o tempo na obra Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa. Inicialmente, apresentam-se algumas teorias sobre o tempo baseadas em textos de Lessing, Santo Agostinho, Koselleck, para chegar às teorias do tempo da narrativa, cujos princípios são retirados principalmente dos ensaios de Benedito Nunes e Mendilow. Fundamentada nessas teorias sobre o tempo, a análise é desenvolvida com o intuito de apresentar as formas de temporalidade no romance de Guimarães Rosa. Assim, situa-se a obra no campo literário brasileiro em que o autor a escreveu. Como consequência, abordam-se algumas referências ao tempo histórico que estão explícitas na fala de Riobaldo, como a passagem da Coluna Prestes pelo Norte e Nordeste brasileiros. Por fim, estudando as descrições de cenas, as imagens criadas a partir do ambiente do sertão, as alegorias a partir de elementos naturais (vento, rio, buritis), pretende-se expor como o tempo aparece em diversos momentos do romance. No último capítulo, desenvolve-se a discussão sobre o tempo das formas, demonstrando-se como a constituição da cena da enunciação põe em jogo categorias do tempo. Parte-se inicialmente da organização da estrutura do romance, a saber, do monólogo em forma de diálogo entre um velho fazendeiro sertanejo e um doutor da cidade. Definem-se em seguida os tempos da enunciação (a narração a partir do presente) e do enunciado (os fatos passados da vida do ex-jagunço). Comparando o romance rosiano com dois machadianos (Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro), apresentam-se as semelhanças e diferenças entre as formas de constituir as narrativas. Com isso, chega-se à caracterização dos autores fictícios (nas obras de Machado de Assis) e da figura do narrador (no romance de Guimarães Rosa). No final, propõe-se que a organização da primeira parte do romance de Guimarães Rosa, cujo divisor é o episódio do julgamento de Zé Bebelo na fazenda Sempre Verde, é um correlato da elaboração de um devir outro do eu do narrador, que acontece a partir da enunciação. Como a enunciação é definida pelo tempo do presente, o narrador, ao relembrar os fatos de sua vida, projeta outras figuras para o que ele foi (jagunço, atirador e chefe), pois se culpa pelas consequências de suas ações no passado, sendo que a principal é a morte de Diadorim. Essa organização da narração engendra formas de tempo que são os resultados que esta dissertação se propôs a discutir.
A imagem do sertão na traduçãi alemã de Grande Sertão: Veredas é uma dissertaçãi de mestrado cujo objetivo é analisar e interpretar a configuração dos elementos constituintes de imagens do meio físico que emergem na tradução alemã da obra GrandeSertão: Veredas, realizada por Curt Meyer-Clason, em confronto com as configurações equivalentes no texto em língua portuguesa. Para realizar esta tarefa, procedemos a reflexões iniciais com a finalidade de mostrar em que medida a tradução e osestudos de imagens estão ligados. Em seguida, traçamos um perfil do tradutor de Grande Sertão: Veredas para a língua alemã, Curt Meyer-Clason. Em continuidade, procedemos ao levantamento e análise pontual dos elementos relevantes que compõem oespaço físico nos trechos selecionados para o estudo tanto em língua portuguesa quanto em língua alemã. Finalmente, procedemos à comparação. Concluímos que a multiplicidade de planos do espaço físico alcançada pelo texto em língua portuguesa éreduzido à existência sobretudo do plano físico no texto em língua alemã.
Do macrossistema de literaturas de língua portuguesa na linha de pesquisa Literatura e sociedade na época contemporânea: Portugal, Brasil e áfrica escolhemos as literaturas brasileira e angolana para nosso estudo com os livros Sagarana, de João Guimarães Rosa e Luuanda, de José Luandino Vieira. Pela valorização da linguagem local esses escritores criaram um mundo à parte no espaço ficcional - o sertão em Sagarana e o musseque em Luuanda - com uma geografia, flora e fauna que são parte ativa na vida das personagens habitantes deste espaço. Os seres que vivem nesse "mundo dentro de outro mundo" estão sujeitos às suas leis: um misto de acaso, de destino e de forças sobrenaturais. Pretendemos verificar as semelhanças e diferenças entre esses dois autores e a nossa escolha desses autores se justifica tanto pela formalização estética quanto pelos valores veiculados nas obras.
O objetivo deste trabalho é apresentar um estudo do léxico de Guimarães Rosa, na obra Grande Sertão: Veredas e de sua tradução italiana, feita por Edoardo Bizzarri (1970). Foram selecionadas palavras da obra, que constam como não dicionarizadas no livro de Nilce SantAnna Martins (2001), O Léxico de Guimarães Rosa, para uma análise comparativa à tradução italiana. Mostramos nesta análise comparativa aproximações e distanciamentos entre original e tradução, marcando onde a proximidade com o português funcionou ou não e quando o sentido da tradução, seguindo as tendências deformadoras, de Antoine Berman (2007), em A tradução e a Letra ou o albergue do longínquo, fez com que o texto original sofresse alguma alteração na tradução. Como objetivo final a proposta é a produção de um dicionário bilíngue dos neologismos de Rosa, português/ italiano/ português.
Neste trabalho procuramos dar uma modesta contribuição para o levantamento de questões podem conduzir a um enriquecimento dos estudos da tradução literária de modo geral e, em particular, da obra de Guimarães Rosa; e, por outro lado, como produto inerente e desejável desse processo, lançar alguma luz sobre um conto complexo e obscuro de Sagarana, A hora e vez de Augusto Matraga. A partir dessas atividades foi possível enunciar algumas exigências cujo cumprimento pelo tradutor do autor mineiro consideramos essencial. No fundo, elas não diferem do que é preconizado pela maioria dos estudiosos da tradução, mas o que torna peculiar a tradução de Guimarães Rosa é a intensidade com que tais exigências devem ser preenchidas. O fato de Rosa, em sua narrativa, utilizar-se de ampla gama de ramos do conhecimento para gerar elementos de interpretação que somente são revelados ao leitor por meios indiretos, faz que a capacidade analítica do texto de partida tenha lugar de destaque entre as habilidades do tradutor. No final das contas, este terá de transcrever na língua de chegada a sua leitura da obra - dentre a infinidade de leituras possíveis -, e ler Guimarães Rosa é tão difícil quanto rescrevê-lo.
O objetivo deste trabalho é o de demonstrar que o conjunto dos nove contos de Sagarana apresenta uma unidade de conteúdo. Desenvolvendo as idéias gerais de Luiz Dagobert de Aguirra Roncari expostas em um curso de pós-graduação ministrado na Universidade de São Paulo (USP) no segundo semestre de 2005, foi possível concluir que uma representação do Brasil da Primeira República constitui o significado central da obra. Esta visão possibilita posicionar Guimarães Rosa entre os intelectuais que se ocuparam de um tema candente na primeira metade do século XX, o de analisar o Brasil com a finalidade de corrigi-lo. Adicionalmente, o trabalho pretende mostrar que a determinação desse significado central é indispensável para a compreensão de Sagarana na sua totalidade.
Este trabalho realiza uma leitura crítica da obra Corpo de baile de João Guimarães Rosa, composta por sete novelas independentes, com foco na sua unidade. O sertão de Corpo de baile constitui-se como um universo comum em suas dimensões geográfica, econômica, social, temporal, cultural e existencial. As personagens vivem sua condição transitória de vaqueiros e trabalhadores no sertão do gado e buscam um novo lugar social e geográfico onde possam encontrar sentido para suas vidas. O sertão também se transforma ao mesmo tempo que se constitui como ambiente quase anímico, encantado, que oferece contato com a natureza, revela o progresso à espreita como possibilidade ambígua de melhoria e ao mesmo tempo aniquilação de suas condições de existência. A morte da personagem Dito de Campo geral é emblema desse sertão que se forma aos olhos do leitor, carregando as condições de sua dissolução. As outras personagens protagonistas repetem os movimentos que configuram esse estado de coisas: o sentimento de exílio e o cálculo social, a identificação com um duplo e a experiência de uma luta de morte e a fixação em desejos, lembranças ou imagens.
A presente dissertação tem por objetivo a catalogação, descrição e análise do álbum ZOOS, coleção de recortes de jornais sobre animais, organizada pelo escritor João Guimarães Rosa, entre os anos de 1948 e 1951. Sem jamais ter chamado a atenção dos pesquisadores, o material preservou-se no arquivo pessoal do escritor, hoje sob a guarda do Instituto de Estudos Brasileiros, da Universidade de São Paulo, onde a presente pesquisa foi desenvolvida. Considerando o álbum como um tipo singular de livro-montagem, o estudo propõe estabelecer relações entre seu assunto principal e cinco textos de Ave, palavra (1970).
Acredita-se que a polaridade do jogo de xadrez encontra-se enraizada na matéria ficcional de Guimarães Rosa sob matizes diversificados, desdobrando-se em outros jogos, como o do olhar, que delineia, por sua vez, interesses variados, relacionados ao amor, à sedução, ao erotismo, ao interesse político e ao interesse privado, sendo o jogo da linguagem aquele que alicerça a todos. A análise desse discurso ideológico priorizou dois contos de momentos enunciativos distintos (1946 e 1956, respectivamente) na produção rosiana, justamente para tentar aclarar a perspectiva enxadrística de uma maneira mais enfática em um, e mais subjacente em outro: Minha gente e Buriti. No tabuleiro destas duas estórias, o viés mítico, atado ao feminino, e o psicanalítico freudiano, em especial, aparecem, quando convocados pelo texto literário, para embasar a análise.
Pensando a literatura como um fenômeno de linguagem que não dispensa a experiência sociocultural em sua feitura, o presente trabalho se volta à última obra não-póstuma de Guimarães Rosa, que desponta por certas singularidades intrínsecas, Tutaméia, com o fim de apreender como a arcaica e tradicional sociedade patriarcal se configura no âmbito privado, a Família. Tomando o chiste enquanto procedimento formal dialético, de revelar e esconder, de desconcertar e esclarecer, de tapar e descobrir, percebe-se que a conjectura subjaz à manutenção do modelo familiar, pelo masculino, enquanto, pelo feminino, há tendência à fratura e/ou ruptura do mesmo. Por tais constatações, estrutura-se o estudo em três blocos discursivos. Ao primeiro cabe enfocar certas especificidades do corpus literário; o segundo procede em torno da crítica literária, de onde se introduz um matiz diferenciado; e, por fim, considerando todo o escrito de antes, o último incide na interpretação temática mais apurada a partir de duas estórias: Desenredo e Esses Lopes.
A tese resulta de pesquisa sobre o pensamento educacional de Rubem Alves, em diálogo com Nietzsche, Marx, Freud, Kierkegaard, Wittgenstein, Feuerbach, Fernando Pessoa, Adélia Prado, Guimarães Rosa e muitos outros, filósofos, poetas e literatos, explicitando as bases humanísticas e contraculturais de seu pensamento filosófico e pedagógico. De caráter bibliográfico, a pesquisa restringe-se intencionalmente, à obra de Rubem Alves e às diversas dissertações e teses sobre o pensamento. Busca mostrar que preocupação primeira de Rubem Alves é o resgate da concepção do homem, enquanto ser corporal, de desejos e de sonhos, no interior das filosofias, culturas e literatura ocidentais. Mostra então que a proposta pedagógica de Rubem Alves tem raízes antropológicas e contraculturais, ancoradas no pensamento crítico e romântico, em contraponto à metafísica clássica e ao pensamento moderno, iluminista, cientificista e positivista. Com Freud, Feuerbach, Kierkegaard, diversos poetas e literatos, mostra que a essência da vida e do homem está mais no desejo e na imaginação que na razão. Para se compreender este postulado norteador do pensamento do filósofo brasileiro, dois conceitos foram trabalhados: o corpo e a linguagem. Evidencia-se que, sem formular proposta pedagógica sistemática e metodologicamente conformada aos parâmetros acadêmicos, este pensador formula profundas e contundentes críticas às pedagogias tradicionais que, considera intelectualistas, centradas em saberes abstratos, desencarnados e distantes da vida e das experiências concretas dos alunos. Os resultados da presente investigação encontram-se arrolados nas Considerações Finais e podem ser sintetizados na seguinte proposição: confirma-se a existência, no pensamento alvesiano, de uma proposta pedagógica, disseminada em suas mais de oitocentas crônicas e nos mais de trinta livros de estórias para pequenos e grandes. É, também, parte integrante das conclusões desta pesquisa a afirmação de que a referida proposta tem raízes antropológicas e reminiscências românticas e contraculturais, que, por sua vez se fundam em seu pensamento filosófico e teológico.
Esta tese visa a esmiudar, a partir de uma abordagem marcadamente intratextual, a questão do humor e da alegria em Tutaméia: terceiras estórias de Guimarães Rosa. No primeiro capítulo, apresentam-se considerações mais teóricas e gerais sobre o tema, que aparece, em Rosa, matizado pelas sombras da angústia, da dormência, do trágico: ambos, alegria e humor, espontam de uma hermenêutica inteiramente varada pela consciência do absurdo. No segundo capítulo, discute-se a relação entranhada da própria forma lacunar da obra com esse espírito intransparente, ao mesmo tempo melancólico e venturoso, que a constitui. No último capítulo, interpreta-se o prefácio "Aletria e hermenêutica", esquadrinhando os artifícios de composição de parte de suas anedotas, e trazendo à luz a fabulação paradoxal, chistosa e sublime do texto.
Este trabalho de dissertação de mestrado objetivou estabelecer uma edição fidedigna e anotada da Correspondência inédita entre João Guimarães Rosa e seu tradutor alemão, Curt Meyer-Clason, no período de 23 de janeiro de 1958 a 27 de agosto de 1967. O estabelecimento dessa edição teve como fundamento os pressupostos teóricos da Crítica Textual, no que diz respeito à definição da edição e dos procedimentos gerais empregados para o estabelecimento do texto em questão, especificamente, epistolográfico.
Estas Estórias, livro no qual convivem textos de tons e estilos diferentes, obrigou-nos a respeitar a autonomia própria da forma "conto", na realização de uma leitura que rastreia duas constantes, morte e alteridade, presentes nas narrativas do volume, de forma constitutiva ou tangencial. A presença da morte física e/ou metafórica se faz sentir, em maior ou menor proporção, no conjunto textual, bem como a alteridade, ligada ao duplo, ao cultural e ao confronto com o outro, viabilizando encontros decisivos para inesperadas alterações no destino das personagens. Embora determinados contos se integrem perfeitamente ao fio temático, outros não se encaixam com igual exatidão, devido à impecável autonomia. Assim, frente à expressiva diversidade da obra, preservamos diferenças e semelhanças, detendo-nos em pontos, ecos ou ressonâncias comuns, dando-lhes tratamento distinto em realação à temática escolhida.Sempre em função da autonomia, como percurso teórico de nossa pesquisa analítico-descritiva, escolhemos aspectos da psicanálise, particularmente o estranho freudiano, que nos permite perceber as relações morte/alteridade nas narrativas e, através das várias perspectivas adotadas, buscamos perceber as maneiras de tratamento dessas constantes e sua vinculaçào com o conjunto de producão ficcional do autor.