Aproximar o conto de Guimarães Rosa “Conversa de bois” (Sagarana, 1946) do quadro Vaca amarela (1911), de Franz Marc,pintor expressionista ligado ao movimento Der Blaue Reiter,significa repensar a representação dos animais, forçando os limites do comentário batailliano sobre a “mentira poética da animalidade” até fazer da poesia o lugar de uma verdade ética da hospitalidade com a qual se dá acolhida ao totalmente outro. Essa verdade se manifesta como exigência do impossível, como no dito de Derrida: “Um ato de hospitalidade só pode ser poético.” No conto, coexistem estruturas mais tradicionais de representação com a tentativa poética de encontrar, através da plasticidade da linguagem, algo que seria traço irredutível dos bichos; no quadro, a representação da vaca vista de fora se mistura ao cromatismo em amarelo com o qual o pintor busca apresentar poeticamente algo do afeto dos bichos em sua “visão de mundo”.
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