O ponto de partida é o discurso literário como objeto de interesse antropológico e tomado não como imitação mas como metáforas da vida. Este discurso é aqui considerado como tendo uma estética própria, e cuja textualidade, na perspectiva da crítica pós-moderna à ciência, não é estranha ao texto etnográfico. Neste artigo, objetivamos pensar sobre convergências entre literatura e antropologia, em especial, na obra “Grande sertão: veredas”, de João Guimarães Rosa, buscando delinear dimensões de um encontro/confronto de instrumentos e possibilidades de novas ferramentas de conhecimento. Neste sentido, tomamos a escrita rosiana como posicionamento intelectual literário mas também, à moda etnográfica, como um modo de interpretar e narrar processos, atores, ambientes, de um sertão-mundo, ao mesmo tempo, como representações e para além delas. A hipótese central, em si mesma, expressão da abordagem teórico-metodológica, é que os caminhos rosianos percorridos nesta
construção literária abrem-se a articulações com perspectivas e aspirações da pesquisa
antropológica. Em especial, de uma antropologia do imaginário, com foco na memória e em narrativas orais, com centralidade no narrador e nos cambiantes sentidos agenciados, atravessados por múltiplas “veredas”. Como resultado, em linhas gerais, podemos dizer que a obra rosiana e a antropologia apresentam instrumental analítico, retórico, e metodológico, como ferramentas heurísticas articuláveis e convergentes no trabalho de apreensão do imaginário social de sertão.
Atenção! Este site não hospeda os textos integrais dos registros bibliográficos aqui referenciados. Para alguns deles, no entanto, acrescentamos a opção "Visualizar/Download", que remete aos sites oficiais em que eles estão disponibilizados.