Em A Falecida, Nelson Rodrigues construiu um universo imagético de delírio e brincadeiras que pavimentou a aceitação social de uma nova sensibilidade estética marcada por desrazão & ludicidade. A mesma sensibilidade apareceu nas últimas obras de Campos de Carvalho e em Guimarães Rosa. Com fortes acentos lúdico-humorísticos, tais obras são fragmentadas, esgarçam os limites da linguagem e, tal como na poesia, exploram apelos sonoros numa cadência (dis)rítmica/cacofônica apresentando o mundo (ficcional) em estado de pura desordem. Não obstante suas diferentes temáticas, tais semelhanças formais expressam os esforços poéticos de rompimento com padrões racionalistas da verossimilhança realista — o que envolve o estabelecimento de novo acordo societal acerca do estatuto da arte e revela os termos constituintes do “regime de prazeres” vigente na sociedade brasileira dos anos 1960.
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