A inspiração maior desse texto é a interpretação de “A terceira margem do rio”, de Guimarães Rosa (1992, p. 32-43) e da versão musical criada por Caetano Veloso e Milton Nascimento1. Ambas apontam, entre outras leituras, para a aproximação da palavra (des)situada, ou situada em um espaço além, um lugar descontínuo, com uma margem impossível, sem lugar definido, um entre-lugar, ou um não lugar. A inserção de uma terceira margem ao rio reflete uma espécie de perversão espacial que metaforiza, sobretudo, a in- quietude da palavra de Guimarães Rosa, buscando não estar em um espaço, mas constituir-se como espaço2. Este é reservado ao nascimento de uma nova linguagem, tão insólita e, às vezes, estranha como a própria vida, margeada por outras margens que interrompem os caminhos tidos por certos. Acessar ao conto intitulado “A terceira margem do rio” é entrar no espaço do desejo de Guimarães Rosa no sentido de abandonar margens preestabelecidas e construir outras. “É preciso (limpar) o idioma”, afirma o autor. “Quero voltar cada dia à origem da língua, para poder lhe dar luz segundo a minha ima- gem”. (1994, vol. 2, p. 410-11).
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