O presente estudo, intersecção entre os campos da literatura e da filosofia, é uma reflexão a respeito da presença de um pensamento trágico no discurso de Riobaldo, protagonista de Grande sertão: veredas, romance de João Guimarães Rosa publicado em 1956. Os pilares que sustentam a noção de “pensamento trágico” são, sobretudo, as formulações da filosofia madura de Nietzsche. Parte-se, no capítulo primeiro, de um esboço da gradual passagem de uma “poética da tragédia” (de índole aristotélica) a uma “filosofia do trágico”, verificada no âmbito da modernidade filosófica, especialmente na Alemanha. No pensamento de Nietzsche, o trágico, como noção que polariza e reflete traços fundamentais da experiência humana, atua como índice de uma postura francamente afirmativa em relação à existência, liberta do anseio metafísico por fundamento. No capítulo segundo, “A negação”, busca-se investigar os diversos estratagemas aos quais Riobaldo lança mão no intuito de esclarecer o sentido da experiência narrada. Procedimentos que, de um modo ou outro, barram o acesso ao trágico, na medida em que burlam ou encobrem os aspectos dolorosos e problemáticos da existência em favor das ficções do Ser baseadas nos atributos de duração, permanência, identidade, estabilidade, etc. No capítulo terceiro, “A afirmação”, entra em cena a possibilidade do trágico, dada a falência das estratégias retilíneas rumo ao Sentido, captada pela argúcia do próprio narrador. Nesse estágio, busca-se entrever de que forma a reflexão de Riobaldo opera no limite opaco além do qual as noções herdadas por uma longa tradição do pensamento são continuamente postas em questão.
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