Apesar de ser o último texto de ficção mais longo que Guimarães Rosa publicou em vida, o conto “Os Chapéus Transeuntes” não recebeu praticamente atenção da crítica especializada. Pretendemos, neste artigo, aventar uma interpretação da estória que compreenda sua escritura como resultado da “fricção entre biografia e ficção” (MARINHO, 2011, p. 247), demonstrando, a partir de pequenos biografemas (SOUZA, 2002), sua importância para o estudo da obra do autor mineiro.
A partir de coleção de biografemas de Guimarães Rosa – tomado aqui como personagem de seu próprio projeto singularíssimo de cruzamento de vida e obra – o conto “Os chapéus transeuntes” é lido como performance autoficcional; isto é, a escritura dessa estória pode ter servido de gesto de confissão e contrição do próprio Rosa, que assim expiaria seu pecado maior: a Soberba. A hipótese da pesquisa é que existe em vigência no aparato crítico um Rosa cor-de-rosa, tanto no sentido de atenuar sua “fala narcísica” (CHAUVIN, 2020), como no de obliterar a tradicional relação dessa cor à feminilidade. Na conclusão, aventam-se algumas questões sobre o autor talvez ainda não devidamente respondidas.
O presente ensaio parte da estória “Os chapéus transeuntes”, de Guimarães Rosa, que oferece o material linguístico a ser utilizado em duas possibilidades de atividades didáticas. Na primeira, é fornecida uma listagem de palavras inusuais ou neológicas encontradas no conto. Na sequência, uma outra lista (seguimos procedimento rosiano, que, como se sabe, adorava listas), agora de palavras dicionarizadas, tenta distinguir as nuances de expressões que gravitam ao redor do tema central do conto, a “soberba”, com o intuito de forçar a atenção ao detalhe e perceber que cada termo, por mais que seja aparentado a outros, é singular. A metodologia do artigo é descritiva, apresentando as duas sugestões de propostas didáticas, junto com seu material para aplicação (as listas). Já a metodologia das atividades é aberta, de acordo com o planejamento de cada professor, a partir das diretrizes expostas no artigo. O público-alvo dos dois exercícios pode ser de discentes do Ensino Médio ou mesmo de cursos de graduação em Letras. Como resultado, espera-se que o aluno se aproxime do autor considerado "difícil" através de um viés incomum que pode suavizar esse primeiro contato. Para além disso, despertar sua criatividade linguística latente (a partir da atividade um), bem como ampliar seu vocabulário de forma sistemática (com a atividade dois).
Nesta pesquisa, procuramos analisar a representação estética do medo em narrativas
de João Guimarães Rosa. Para tanto, o presente estudo se divide em duas partes: a
primeira corresponde ao exame do medo que invade o universo infantil em “Campo
Geral” e finda com o personagem já adulto em “Buriti”; já a segunda, compreende a
análise de como o medo se apresenta em meio ao universo do indivíduo idoso em duas
distintas estórias “A benfazeja” e “Os chapéus transeuntes”. Assim sendo, temos como
objetivo analisar o medo sentido ou provocado pelos personagens em meio aos
caminhos tortuosos por eles percorridos nestas estórias, na perspectiva de
compreender como o medo se firma em cada narrativa e se articula com seguimentos
culturais, históricos e sociais nelas impressas estruturalmente. Buscaremos entender,
também, como o medo se configura na linguagem literária, admitindo funções de
caráter místico, religioso e filosófico sobre os personagens, por vezes modificando o
modo como pensam, têm consciência de si e das circunstâncias em que vivem. Para o
estudo específico sobre o medo adotaremos como suporte teórico Delumeau (2009) em
História do medo no ocidente; Myra y López (2012) em Quatro gigantes da alma: medo,
ira, amor, dever; e Michel de Montaigne (2010) em “Sobre o medo”.
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