Faculdade de Ciências e Letras (FCLAR) / Pós-Graduação em Estudos Literários
O tema da pesquisa é a construção do conceito de justiça em contos de Sagarana e de Primeiras estórias de Guimarães Rosa. O objetivo principal é levantar e analisar os modos como, nas narrativas selecionadas, o escritor apresenta a questão da justiça. Interessa verificar também se o tratamento dessa matéria coaduna-se com o ambiente sócio-histórico representado nas composições. Para tanto, a dissertação ocupa-se com a análise de elementos narrativos, como a história, o narrador, as personagens e o espaço social. O corpus do trabalho é constituído pelas seguintes narrativas: “O burrinho pedrês”, “Duelo”, “São Marcos”, “Corpo fechado”, “Conversa de bois” e “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Sagarana, e "Os irmãos Dagobé" e "Fatalidade" de Primeiras estórias. Percebemos que a justiça construída nos contos tem, geralmente, duas formas de manifestação: a justiça humana, realizada pelas próprias mãos das personagens, tendo em vista que o Estado não está presente no sertão; e a justiça divina, chamada de providência de Deus, que rege muitos dos acontecimentos das histórias. O embasamento teórico da pesquisa é agrupado em três linhas: primeiramente, crítica sobre a produção rosiana em geral, como “De Sagarana a Grande sertão: veredas” de Benedito Nunes, em que o autor apresenta um panorama dos três primeiros livros de Guimarães Rosa, de certa maneira introduzindo-nos na compreensão do geral, e mais particularmente, a crítica sobre nosso corpus como, por exemplo, Fórmula e fábula de Willi Bolle, em que o crítico aponta como características das narrativas de Sagarana, o moralismo e o conservadorismo, de maneira que, sempre que um fato de valor considerado moralmente negativo ocorre na história, uma sanção é estabelecida (seja ela de justiça divina ou de mão própria); em segundo lugar, textos que tratam do tema da justiça abordado nos contos, como Estudos de filosofia do Direito de Tércio Sampaio Ferraz Jr., em que temos informações sobre a origem da divisão da justiça em humana e divina; A justiça popular em Cabo Verde, de Boaventura de Sousa Santos; Filosofia do direito, de Paulo Nader, entre outros. Por último, ensaios sobre as categorias da narrativa, nosso instrumento de análise literária, como Discurso da narrativa de Genette, que nos possibilita desenvolver melhor a leitura de como essas categorias constroem, ao longo dos contos, as manifestações da justiça. Finalmente, conclui-se que a ausência do Estado, na maioria dos contos, leva as personagens a fazer justiça pelas próprias mãos. Entretanto, surge também a justiça divina: uma ideia de justo que vai além do tempo e do espaço em que ela se insere, que é onipotente e arranja os fatos. Tal manifestação tem presença muito forte em todos os contos analisados: é como se houvesse uma mão divina providencial que coordenasse os acontecimentos, fatalmente, para seu desfecho.
Palavras-chave atribuídas pela pesquisa:
justiça