Entre as narrativas de Corpo de baile, “Buriti” destaca-se pela presença de personagens femininas marcantes, como as irmãs Maria da Glória e Maria Behu, cuja composição incrementa o discurso poético do texto de modo distinto, ora favorecendo apelos eróticos, ascendentes, ora imprimindo signos de imobilidade, descendentes. Este artigo analisa a relação entre os modos de ser e de agir dessas personagens e a dicção poética de Guimarães Rosa, tomando-se a perspectiva de Miguel, um dos protagonistas. Para a pesquisa, foram utilizados referenciais teóricos acerca do discurso poético em geral, como O ser e o tempo da poesia de Alfredo Bosi e do gênero lírico em especial, como Conceitos
fundamentais da poética, de Emil Staiger e “A teoria dos gêneros” Anatol Rosenfeld, além de
ensaios sobre a produção rosiana, como os de Benedito Nunes e Eduardo Coutinho e especificamente sobre “Buriti”, A construção do romance em Guimarães Rosa de Wendel Santos. Os resultados da pesquisa evidenciam que a caracterização e o posicionamento das personagens selecionadas importam sobremaneira à manutenção e incremento do discurso poético, constituindo um acréscimo à elaborada produção do escritor mineiro.
O trabalho analisa o vínculo entre a melancolia e o devaneio na criação e manutenção do discurso poético em “Buriti”, de Guimarães Rosa, parte da obra Corpo de baile. Através de três personagens centrais – Miguel, Maria Behu e Chefe Zequiel – imprime-se a tonalidade melancólica, que propicia o devaneio e o lamento, associados ao modo de ser introspectivo e sensível. Além do exame das personagens selecionadas, são analisados elementos do espaço e do tempo que, dada a atmosfera noturna do texto, contribuem na disseminação da poeticidade discursiva, alicerçada, portanto, no tripé personagens, espaço e tempo. Para o estudo da narrativa como um todo, conta-se com a obra de Wendel Santos sobre “Buriti”, A construção do romance em Guimarães Rosa, seguida da leitura das cartas trocadas entre o escritor e seu tradutor em Correspondência com seu tradutor italiano Edoardo Bizzarri. Para fundamentar a análise dos recursos poéticos, valese de O ser e o tempo da poesia, de Alfredo Bosi e “Em torno da poesia” de Tzvetan Todorov. Para o exame do tempo e do espaço, associados ao devaneio e à melancolia, a contribuição teórica centra-se nas obras A poética do espaço e A poética do devaneio de Gaston Bachelard e As estruturas antropológicas do imaginário de Gilbert Durand. Os resultados da análise confirmam que a poeticidade do discurso da narrativa tem estreita conexão com o modo de ser melancólico, o que o devaneio alimenta e propaga, ad infinitum.