O presente trabalho propõe-se a analisar as personagens Mula-Marmela, do conto “A benfazeja”, e Sinhá, do conto “Sinhá Secada”, que integram respectivamente as obras Primeiras estórias e Tutaméia: Terceiras estórias, do escritor mineiro João Guimarães Rosa, segundo uma proposta de alteridade: sugere-se um enfraquecimento dos limites constituintes das diferenças identitárias para uma melhor apreensão do indivíduo enquanto ser. Para tanto, propõe-se uma aproximação entre as diferentes personagens, para além das diferenças do enredo, que passa pela narrativa “Os irmãos Dagobé” e estende-se aos contos dos quais fazem parte as personagens, segundo uma ampliação do espelhamento sugerido por Consuelo Albergaria em sua obra Bruxo da linguagem no grande sertão. Consideradas as afinidades identitárias destacadas entre as personagens, a despeito de todas as diferenças contextuais, destaca-se a simbologia da cruz como símbolo máximo da exclusão. A análise se conclui com uma reflexão apoiada no pensamento de Octavio Paz, que discorre sobre os estreitos limites que separam o eu e o outro na constituição do ser, e, também, no pensamento de Henri Bergson, que questiona a separação sujeito/objeto para introduzir a ideia de uma continuidade universal e sugerir uma essência humana imperscrutável para além dos traços identitários, inclusive de gênero, como proposta de uma melhor apreensão do outro.