Esta dissertação tem como objetivo refletir sobre as estratégias narrativas configuradoras de espaços e espacialidades tal como se manifestam em contos do escritor brasileiro João Guimarães Rosa e dos escritores angolanos José Luandino Vieira e Boaventura Cardoso. A composição do corpus foi motivada por textos que permitissem uma aproximação com vistas ao deslinde das configurações espaciais que estruturam as narrativas. Para a realização do estudo, foram conclamados pontos de vista teóricos sobre espaço e espacialidade, particularmente, os de Edward Soja, Doreen Massey, Michel de Certeau, Cássio Hissa e, principalmente, Milton Santos. Embora os objetivos da dissertação privilegiem a constituição espacial, discussões sobre as categorias personagem e tempo também estão presentes para demonstrar a pertinência de utilização de um conceito tomado ao sociólogo polonês Zygmunt Bauman e de sua teoria sobre o refugo humano. Essa teoria subsidiou a percepção de certas personagens dos contos selecionados, delineadas por elementos que fazem parte do conceito de refugo humano. Como se pretendeu demonstrar, a orquestração de seres do lixo, nos contos analisados, arquiteta e cristaliza o veio de uma literatura que, mesmo produzida em contextos culturais tão diversos, permite construir pontos de contato e delicados olhares para espaços, espacialidades, territórios, paisagens e lugares e seus seres redundantes e exibi-los na cena literária.