Nesta pesquisa, buscamos analisar a indumentária masculina descrita na trama do romance Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, com o intuito de compreender como cada peça de vestuário tanto contribui para a construção da verossimilhança — em relação ao tempo e espaço, ou seja, à cultura — quanto serve de ferramenta para reforçar o mistério do enredo — como encobrimento do corpo de Diadorim. Para a realização dessa análise, inicialmente, fizemos o fichamento de todos os itens de indumentária citados na trama para, posteriormente, recortarmos os que dialogavam entre si e quais significados transcendiam da seleção final, a partir de estudos das áreas de Literatura Brasileira, Sociologia da Indumentária, Moda, História, Antropologia e Psicologia, além de pontuações sobre Ecologia, Geografia e Engenharia Têxtil. O objetivo principal de nossa pesquisa é refletir sobre como o diálogo interdisciplinar pode contribuir para a escrita e interpretação literárias, analisando para isso as ocorrências de descrição de indumentária na obra de João Guimarães Rosa. Assim, valemo-nos da reflexão de teóricos das diversas áreas, já citadas, como Walnice Galvão, Frederico Pernambucano de Mello, Diane Crane, Patricia R. Anawalt, Peter Stallybrass, Fredéric Godart, Antonio Candido, Roland Barthes, Paulo Ronái, Willi Bolle, dentre outros, como segurança na compreensão dos aspectos múltiplos que se entrelaçam às peças de vestuário reais e fictícias. Por isso, organizamos o texto de forma a, inicialmente, estudar o significado linguístico, social e histórico do que é a indumentária, passando-se a um estudo sobre a indumentária inscrita nas linhas literárias, refletindo tanto sobre trabalhos acadêmicos que, assim como nós, se debruçaram sobre a temática, quanto sobre exemplos em breve cronologia da literatura brasileira que vai de Machado de Assis a Ana Martins Marques, para, finalmente, adentrar a análise das peças entrelaçadas ao sertão rosiano. No decorrer de nossa análise foi possível perceber particularidades sobre como o vestuário masculino reforça o mistério do enredo, bem como pontua anunciações, metaforiza sentimentos, demarca autoridades, salienta ambiguidades, dentre outras descobertas.