Propõe-se, aqui, um estudo comparativo entre o romance rosiano Grande Sertão: Veredas e o poema épico homérico Ilíada. Diálogos fecundos acontecem entre obras literárias de outras culturas e épocas. Para que o fenômeno aconteça é necessário que o leitor participe de todo o processo comparativo e que aja como um leitor apto a aceitar o paralelismo proposto entre duas obras literárias. Tal paralelismo só se dá quando a enciclopédia do leitor tem instrumental para realizar a ação de leitura, o que Eco chama de competência enciclopédica. Quando uma análise comparativa acontece, leva-se em conta uma série de indagações. Na verdade, o fenômeno amplia os horizontes de leitura e demanda um estudo pormenorizado. Valer-se da literatura para refletir sobre literatura é por demais proveitoso. Perfilar Rosa e Homero enriquece o estudo de literatura sem fronteiras culturais e lingüísticas. Daí poder dizer que o Sertão e a Hélade estão próximos e que Grande Sertão: Veredas e Ilíada interrelacionam-se. O encontro das narrativas propiciou o surgimento de veredas esperadas e não esperadas, como a comparação entre o diabo e o deus grego Hades. Foram percebidos encontros estilísticos entre Rosa e Homero. Algumas veredas percorridas, outras desbravadas. No geral, a percepção de que muitas outras veredas se abriram, esperando para serem percorridas em outra oportunidade. Cada vereda surge de modo variado. Encontramo-nos, então, em uma profusão de caminhos, uns citados por Riobaldo, outros pelo aedo da Ilíada e outras tantas pelo próprio leitor.