Este trabalho compõe-se de uma Bibliografia Geral da Obra de Guimarães Rosa, contendo aproximadamente 2.000 títulos e da Bibliografia Comentada de Sagarana, composta de resumos de 187 trabalhos entre dissertações e teses, produzidos a partir da década de 70 e textos críticos, estes elaborados desde o momento de publicação do livro de Rosa. Tais resumos objetivam orientar o leitor interessado na produção crítica que a comunidade interpretativa mais especializada, a crítica literária, vem elaborando a respeito do livro, fornecendo aos pesquisadores e leitores em geral parâmetros que podem auxiliar a compreensão das relações entre cultura e sociedade, na medida em que compõe o caminho crítico por ele percorrido desde 1946. É abrangendo, pois, parte deste material aqui descrito, inserido no período específico de 1946 a 1956, que se apresenta um pequeno estudo que analisa os parâmetros da recepção crítica do primeiro livro de Rosa, Sagarana, no sentido de promover a emancipação desta obra dos códigos cristalizadores da tradição. Emancipar o livro do conjunto de valores cristalizados pela historiografia literária no momento em que foi publicado pressupõe discutir as relações entre crítica literária e sociedade pela análise do horizonte de expectativas que efetivou a recepção do livro em 1946.Nele, o embate entre as duas tendências discursivas, o regionalismo e o universalismo, que compuseram os discursos de hegemonia da crítica, ficou marcado por relações que extrapolaram o âmbito de uma discussão literária e adentraram a complexa rede de discursos subjacentes àqueles hegemônicos. Tais discursos estabelecem,assim,comopano de fundo,as relações como momento tenso de modernização industrial na sociedade brasileirada décadade 40. Nesta trilha, o movimento de ruptura com a tradição e o surgimento de uma nova, paralelos à validade cultural da obra, fazem a travessia crítica do livro, neste período, tomando possível reconhecer críticos que ocuparam um lugar alternativo, que, por força desta mesma tradição, não puderam ter reconhecidas, de imediato, suas vozes sensíveis e, de certa forma, mais próximas do livro de Rosa e da cultura sertaneja brasileira, nele, representada.
A tese de doutoramento ora apresentada promove uma leitura de parte da obra de cinco autores regionalistas brasileiros, em textos publicados entre o princípio do século XX e meados da década de 60 do mesmo século, a fim de observar os significados do humor, pautado na relação entre cômico e trágico, em diferentes momentos do regionalismo literário no Brasil. A escolha do corpus da pesquisa, em que constam Contos gauchescos, de João Simões Lopes Neto, Urupês, de Monteiro Lobato, Fogo morto, de José Lins do Rego, Sagarana, de João Guimarães Rosa e O coronel e o lobisomem, de José Cândido de Carvalho, procurou contemplar diferentes modelos de composição da prosa literária de feição regionalista, o que possibilitou a reflexão em torno da natureza de diferentes realizações do regionalismo no século XX. A análise das obras, sob o prisma do humor, permitiu que se verificasse a articulação entre a natureza reflexiva e as particularidades da forma humorística e o processo de desenvolvimento, consolidação e transfiguração da tonalidade crítica de que se revestiu o texto regionalista no Brasil. A leitura das obras propostas permite constatar que, por meio de diferentes estruturas narrativas, o humor articula-se à inserção de temporalidades que se agregam à espacialidade do texto, promovendo um aprofundamento da análise do sujeito que habita um único espaço, mas transita entre diferentes tempos.
Este estudo organiza uma dicussão sobre a condição humana na obra de Guimarães Rosa. Tendo por texto base o conto Uma estória de Amor ( Festa de Manuelzão), segundo dos que compõem o ciclo de narrativas do Corpo de Baile, apresenta-se uma proposta de interpretação que destaca a presença de uma reflexão multívoca no que respeita à condição humana associada a reflexão a temas afins como o amor e a memória. A festa, de certo modo, descortina, emsua composição coletiva, vários percursos que ampliam o foco dessa reflexão. O objetivo é mostrar que, seja pela composição peculiar de suas narrativas, seja pela espécie de saber que elas guardam, a obra de Guimarães Rosa propõe uma reflexão acerca do homem que suplanta as questões locais.