Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas
Neste trabalho, propomo-nos a analisar a concepção de Riobaldo como narrador, visto que, como personagem, ele necessita, por meio do relato, expressar suas memórias, a fim de amenizar as culpas que traz arraigadas em si. Ao contar as experiências vividas no tempo de jagunço, Riobaldo destaca alguns acontecimentos relevantes – os amores, as guerras e o embate maniqueísta – que o constituíram e o fizeram refletir acerca da condição humana. Durante esse processo de apreensão, Riobaldo revive os fatos a fim de compreendê-los e de captar, nos detalhes antes não percebidos, os lapsos que o transformaram em um velho barranqueiro permeado de dúvidas. Dentre os eventos mencionados, as relações amorosas se sobressaem, uma vez que o amor carnal existente no cetim do pêlo de Nhorinhá contrapõe-se ao amor espiritual por Otacília, que, por sua vez, esbarra no misterioso e proibido sentimento nutrido por Diadorim, misto de ternura e repulsa, que porta em si todos os quereres inimagináveis, mas que, por afronta do destino, depara-se com a impossibilidade de uma relação que não seja a movida pela vingança. A tríade Nhorinhá, Otacília e Diadorim também será analisada, uma vez que elas influenciam as atitudes do jagunço, enquanto personagem, e, concomitantemente, modificam o narrador, em que Riobaldo se transformará. Embora, o velho jagunço reviva a trajetória de sua juventude, ele não consegue libertar-se das culpas que carrega, pois não é possível vivenciar a relação amorosa nutrida por Diadorim, assim como não pode devolver a vida ao amado. Diadorim passa, então, a existir apenas na memória do velho jagunço; e para revivê-lo, Riobaldo narra às recordações do amigo, lembranças, essas, que trazem à baila o universo do Sertão Mineiro. Para tal, nos pautaremos em Roncari (2004), Neitzel (2004) e Utéza (1994) que relacionam a tríade aos mitos e aos símbolos do feminino, fato que possibilita uma leitura imagética do relato proferido por Riobaldo. Em contrapartida os estudos de Cavalcanti Proença (1959), Bolle (2004) e Nunes (1969) estabelecem os caminhos para a possibilidade de leitura de um Riobaldo, fruto do reflexo tanto positivo quanto negativo dessas mulheres, e que o difere do jagunço ávido que vivenciou o
narrado no calor dos fatos, no momento do primeiro acontecer.