Este ensaio faz uma análise do conto “A terceira margem do rio”, de Guimarães Rosa (2001), apontando os elementos míticos presentes na narrativa e que garantem o caráter de universalidade a um texto inicialmente regionalista. Durante a análise, são recuperados os mitos de Caronte, Noé, bem como a simbologia assumida pela água e pelo barco, elementos cruciais no conto.
As personagens femininas são determinantes na obra de Guimarães Rosa, pois, quando não constituem o eixo em torno do qual gira o protagonista, elas influem de diversas maneiras na condução das personagens masculinas, ampliando ou modificando seus horizontes. Sabendo-se que os traços míticos e arquetípicos, além daqueles advindos da tradição das narrativas orais, destacam-se na configuração das personagens rosianas, tanto masculinas quanto femininas – em geral, auxiliando a construção de aspectos sociais -, investigamos o papel dos mitos e arquétipos na construção de personagens femininas de três narrativas de Corpo de baile: “O recado do morro”, “Dão-lalalão” e “Cara-de-Bronze”. Justifica-se a definição do corpus pelo fato de o presente estudo se tratar da continuidade da pesquisa realizada em nível de graduação, em que foram analisadas as demais novelas dessa obra do escritor, tendo em vista o mesmo tema. Conscientes de que Corpo de baile é obra que mantém coerência interna pelos temas, espaços e personagens, compreendemos, assim, com mais eficiência o cosmo organizado nessa obra de Guimarães Rosa, em relação às personagens femininas. A detecção e análise dos traços mencionados – míticos e arquetípicos – são realizadas por meio da investigação da ação dessas personagens na narrativa, da relação delas com as personagens masculinas e da maneira como outras categorias da narrativa como narrador, focalização, tempo e espaço enformam tais características. Naturalmente, a percepção desses traços advém de conhecimento anterior acerca de mitos e arquétipos femininos. O apoio teórico para o desenvolvimento da pesquisa é constituído de três dimensões: a) ensaios críticos sobre a obra rosiana de modo geral e, especialmente, sobre o tema em pauta, como o de Heloísa Vilhena...