A análise do conto “Corpo fechado” de Guimarães Rosa pretende ressaltar, neste trabalho, a importância da nar-ração de um médico que contribui para a ambiguidade da crença na eficácia da magia, episódio central da história. A narrativa constrói-se a partir de duas visões de mundo: a primeira, mais científica ou citadina, representada pelo médico; a segunda, proveniente da viva imaginação do protagonista ao contar seus causos. O narrador apresenta, no primeiro momento, sua descrição de Laginha, suas cren-ças e valores, propiciando condições para a credibilidade do leitor; no segundo momento, surge o episódio do corpo fechado, principal experiência testemunhada pelo médico e que satisfaz sua curiosidade e expectativa em relação ao lugar. Destaca-se, também, a importância da magia para a transformação do protagonista em herói. Para o estudo desse encontro de visões distintas em torno da temática da magia serão abordados conceitos da teoria da narrativa, sobretudo de Gérard Genette (1995).
O presente trabalho busca estabelecer aproximações entre as obras do brasileiro Guimarães Rosa e do português Miguel Torga, ambos do século XX. A partir de estudos críticos, como as análises de Walnice Nogueira Galvão, Antonio Candido, Benedito Nunes, Massaud Moisés, Cid Seixas, entre outros, apresentam-se as noções de regionalismo e universalismo que perpassam as obras de ambos os ficcionistas. Através de uma análise intertextual dos contos "A menina de lá" e "O cavaquinho", analisar-se-ão como as personagens-crianças fazem parte de universos distintos de infância. Pretende-se, assim, estabelecer um cotejo entre os contos em questão, apresentando semelhanças e distinções neles presentes, no que tange aos temas e aos procedimentos utilizados.