Este trabalho tem por objetivo analisar a condição de proprietários das personagens Paulo Honório e Riobaldo, protagonistas dos romances S. Bernardo e Grande sertão: veredas, escritos por Graciliano Ramos e João Guimarães Rosa, respectivamente. Vamos investigar o percurso que ambos traçaram para sair da condição de pobreza e serem alçados ao posto de donos de terras, os mecanismos de violência que empregaram e a maneira como lidam com seus dependentes. Tentaremos demonstrar como a formação desses proprietários se deu em um momento no qual o país vivia um processo de modernização conservadora, totalmente dissociado da inclusão social. Dessa forma, eles não hesitarão em empregarem violência, práticas clientelistas e presentear seus dependentes com migalhas, para conseguirem e assegurarem suas propriedades.
Esta é uma reflexão sobre como Graciliano Ramos lê as obras de Rosa e sobre como ambos os autores inspiraram minha própria produção literária: através de uma transposição artística de nossas raízes.
Desenvolvimento de um estudo comparativo entre três obras de literatura brasileira cujo tema comum é o sertão: Grande sertão: veredas (sertão das águas), de Guimarães Rosa; Os sertões (sertão semiárido), de Euclides da Cunha; Vidas secas (a aridez das grandes secas), de Graciliano Ramos. Nosso objetivo é focalizar as analogias, as convergências e as diferenças entre essas obras, que despontam no cenário literário brasileiro.
Quando um autor expõe suas leituras e o modo como avalia diferentes práticas literárias, ele oferece uma oportunidade de compreendermos particularidades da prática literária, percebidas a partir de um ponto de vista interno. Mais que curiosa, essa visão interna nos dá pistas de mecanismos e escolhas relativas à percepção de valores literários. Os escritores, agentes literários dotados de um singular capital simbólico, podem perceber, elucidar e avaliar a literatura de seus contemporâneos, associando suas assinaturas aos nomes dos que desejam integrar o campo literário, por meio da crítica literária, desdobrando-se em um escritor-crítico. Outra forma de intervenção no campo literário por parte de escritores é a participação como jurados de concursos de literatura, cumprindo então um papel avaliativo. Guimarães Rosa não fazia crítica literária publicamente. Negava-se, sobretudo, a comentar seus contemporâneos, mas publicou textos em que ficcionalizou escritores, apresentando-os criticamente. Além desse jogo lúdico, pouco comentado (talvez pelo tom enigmático da brincadeira), exerceu em seus manuscritos algumas facetas de escritor-crítico, como vemos em suas anotações como jurado do prêmio Walmap (1966). Neste artigo, abordaremos textos sobre o concurso Humberto de Campos (1937), quando Guimarães Rosa foi julgado por Graciliano Ramos, e as anotações do prêmio Walmap, quando o autor mineiro assume o lugar de avaliador, observando quais critérios são reatualizados pelos dois escritores para a compreensão de seus contemporâneos. Além disso, abordaremos os poucos textos assinados por Guimarães Rosa para apresentar escritores estreantes, nos quais podemos perceber outro éthos autoral em cena.
Este trabalho estuda os textos críticos de Graciliano Ramos sobre a versão original de Sagarana, de Guimarães Rosa, que concorreu ao prêmio do concurso “Humberto de Campos”, em 1938, e objetiva mapear e descrever os principais apontamentos da leitura realizada pelo crítico antes e depois da publicação de Sagarana, em 1946. Ao destacar a vivacidade do diálogo, a exatidão da descrição, a segurança da narrativa e a exemplaridade na construção de figuras humanas e na representação do mundo animal, a leitura de Graciliano dialoga com os trabalhos posteriores de crítica de Candido (2002), Milliet (1981) e Lins (1963) sobre o livro de Guimarães Rosa, principalmente, por já indicar aspectos de análise que seriam desenvolvidos de modo recorrente pela crítica.